Image
Crítica

Claud

: "Super Monster"

Ano: 2021

Selo: Saddest Factory Records / Dead Oceans

Gênero: Bedroom Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Clairo, beabadoobee e Samia

Ouça: Soft Spot e Cuff Your Jeans

7.5
7.5

Claud: “Super Monster”

Ano: 2021

Selo: Saddest Factory Records / Dead Oceans

Gênero: Bedroom Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Clairo, beabadoobee e Samia

Ouça: Soft Spot e Cuff Your Jeans

/ Por: Cleber Facchi 19/02/2021

Cantora, compositora e produtora nova-iorquina, Claud Mintz passou os últimos três anos se revezando em uma série de composições marcadas pelo reducionismo dos arranjos e profunda entrega sentimental. São canções como Wish You Are Gay, If I Were You e todo um fino repertório em que a artista estadunidense utiliza das próprias vivências como mulher lésbica, conflitos sentimentais e tormentos existencialistas como base para a composição de faixas regidas pelo forte aspecto caseiro, porém, sempre detalhistas. Um minucioso exercício de descoberta da própria identidade criativa que ganha ainda maios força com a chegada do introdutório Super Monster (2021, Saddest Factory Records / Dead Oceans).

Primeiro trabalho de estúdio da artista norte-americana, o álbum que conta com lançamento pelo selo de Phoebe Bridgers, nasce como um acumulo de tudo aquilo que Claud havia testado nos primeiros registros autorais. São melodias e vozes enevoadas, camadas de guitarras e batidas sempre pontuais, como um complemento à fina tapeçaria instrumental que cobre toda a superfície do disco. Instantes em que a jovem compositora estreita a relação com outros nomes do pop caseiro da cena estadunidense, como Clairo e Samia, porém, em uma linguagem sempre particular.

Exemplo disso acontece em uma das principais composições do disco, a já conhecida Cuff Your Jeans. Enquanto os versos da canção refletem a poesia descritiva e doce romantismo de Claud – “Ligue para o seu telefone, você nunca atende / Perdendo brincadeiras sem fim / Você nunca foi tão bom em conversa fiada / Mas eu adoraria conversar com você” –, camadas de guitarras, ruídos e sobreposições psicodélicas correm ao fundo da canção. A própria música de abertura do álbum, Overnight, parte de uma base econômica, porém, cresce na forma como a artista utiliza de incontáveis variações instrumentais, batidas e vozes ao longo da composição.

Nesse sentido, Super Monster parece mais próximo do som explorado em Color Theory (2020), último álbum de Soccer Mommy, do que do material entregue por outros nomes recentes do bedroom pop. São canções feitas para serem absorvidas logo nos primeiros minutos, porém, capazes de revelar um universo de pequenos detalhes a cada nova audição. Síntese desse criativo processo de transformação pode ser percebida na crescente This Town. Com um pé nos anos 1990, a faixa avança aos poucos, fazendo da melancolia impressa na letra um estímulo para a inserção de guitarras psicodélicas, sintetizadores e vozes carregadas de efeitos, proposta que faz lembrar das baladas entristecidas de grupos como The Flaming Lips.

Entretanto, a real beleza de Super Monster não está apenas no refinamento de Claud, mas na capacidade da artista em alternar entre momentos de maior sensibilidade e faixas descompromissadas. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na sequência de encerramento do disco, com Rocks At Your Window e Falling With the Rain. São pouco mais de quatro minutos em que a artista nova-iorquina parte de uma canção deliciosamente etérea para mergulhar em uma faixa marcada pela urgência das guitarras, batidas e vozes. E isso se reflete durante toda a execução do álbum, proposta que garante maior dinamismo e força ao trabalho.

A própria escolha de Claud em estreitar a relação com diferentes parceiros ao longo do disco, como a guitarrista Melanie Faye e o músico Nick Hakim, garante ao álbum uma dimensão talvez maior que outros exemplares recentes do gênero, como Collapsed In Sunbeams (2021), da britânica Arlo Parks. Composições que partem sempre de experiências pessoais vividas pela artista estadunidense, porém, completas pela criativa sobreposição de ideias, vozes de apoio e delicadas camadas instrumentais, direcionamento que orienta a experiência do ouvinte até o último acorde de Super Monster.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.