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Crítica

Cloud Nothings

: "The Black Hole Understands"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Japandroids, Wavves e No Age

Ouça: The Sound of Everyone e A Silent Reaction

7.7
7.7

Cloud Nothings: “The Black Hole Understands”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Japandroids, Wavves e No Age

Ouça: The Sound of Everyone e A Silent Reaction

/ Por: Cleber Facchi 13/08/2020

Foi em um estúdio improvisado, dentro do próprio quarto, que Dylan Baldi deu vida aos primeiros trabalhos de inéditas do Cloud Nothings, Turning On (2010) e o homônimo disco entregue no ano seguinte. Curioso pensar que uma década após o lançamento de músicas como Hey Cool Kid, Understand At All e Should Have, é partindo dessa mesma base caseira que o guitarrista norte-americano revela ao público o sétimo e mais recente álbum de inéditas da banda: The Black Hole Understands (2020, Independente). São dez composições produzidas e gravadas à distância, com um produto do isolamento forçado pela pandemia de Covid-19 e a separação entre Baldy e o baterista Jayson Gerycz.

Propositada ou não, vem justamente dessa separação entre os dois artistas o estímulo para o trabalho que mais se distancia dos antigos registros da banda. Longe do som ruidoso que marca os últimos álbuns do grupo, vide o repertório entregue em Life Without Sound (2017) e Last Building Burning (2018), Baldi se concentra na produção de uma obra aprazível e marcada pelo uso de boas melodias. É como se o pós-grunge incorporado durante o lançamento de Attack on Memory (2012), grande obra do Cloud Nothings, fosse temporariamente silenciado, proposta que aproxima o ouvinte de um universo de novas possibilidades.

Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do disco, em The Sound of Everyone. Inicialmente regida pela bateria firme de Gerycz, a canção assume novo resultado na sobreposição das vozes e guitarras que parecem saídas de algum clássico do Teenage Fanclub. O mesmo resultado acaba se refletindo mais à frente, em A Silent Reaction, música que desacelera em relação aos antigos trabalhos da banda, porém, mantém firme a mesma força da dupla. São harmonias de vozes e pequenos respiros que antecedem o uso calculado das distorções, proposta que faz lembrar de veteranos como The Lemonheads e toda uma frente de artistas que surgiram no final dos anos 1980.

Mesmo ancorado em um universo de novas possibilidades, The Black Hole Understands em nenhum momento oculta a crueza explícita em toda a sequência de obras que apresentaram as primeiras canções da banda. São rupturas e avanços pontuais em que a voz de Baldy se distancia da base melódica do disco em prol de um resultado minimamente caótico. Nada que se compare ao som furioso detalhado em Here and Nowhere Else (2014), obra mais barulhenta do Cloud Nothings, mas, ainda assim, um necessário ponto de regresso.

Entretanto, vem do equilíbrio entre passado e presente da banda de Cleveland a real beleza de The Black Hole Understands. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade em An Average World, terceira faixa do disco. Enquanto melodias e vozes vão do jangle pop ao pós-hardcore, camadas eletrônicas e ruídos complementares tingem com ineditismo a experiência do ouvinte. É como se diferentes obras fossem condensadas em um curto espaço de tempo, proposta que evoca nomes importantes como R.E.M. e The Replacements, porém, regressa momentaneamente aos últimos trabalhos do Cloud Nothings.

De fato, poucas vezes antes o som produzido pelo grupo norte-americano pareceu tão aberto, capaz de dialogar com diferentes propostas criativas. Do momento em que tem início, em Story That I Live, até alcançar a auto-intitulada música de encerramento, cada composição do álbum reflete o esmero de Dylan em ampliar as próprias referências. Do tratamento dado aos vocais, passando pela minúcia das guitarras e escolha dos temas incorporados ao longo da obra, tudo soa como um necessário ponto de renovação dentro da carreira da banda. Instantes em que a dupla perverte tudo aquilo que foi apresentado nos últimos registros autorais.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.