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Crítica

Cloud Nothings

: "The Shadow I Remember"

Ano: 2021

Selo: Carpark Records

Gênero: Indie Rock, Pós-Hardcore, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Wavves, Japandroids e No Age

Ouça: Nothing Without You e Oslo

7.8
7.8

Cloud Nothings: “The Shadow I Remember”

Ano: 2021

Selo: Carpark Records

Gênero: Indie Rock, Pós-Hardcore, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Wavves, Japandroids e No Age

Ouça: Nothing Without You e Oslo

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2021

De toda a frente de artistas que surgiram no início da década passada, como Wavves, METZ e Speedy Ortiz, o Cloud Nothings talvez seja o mais relevante e ainda ativo. Sob o comando de Dylan Baldi, o quarteto original de Cleveland, Ohio, foi de um projeto concebido no quarto do guitarrista, para um dos grupos mais intensos e relevantes da cena norte-americana. Exemplo disso está em toda a sequência de obras apresentadas pela banda ao longo dos anos, vide a força criativa explícita em Attack on Memory (2012), Here and Nowhere Else (2014) e demais registros que incorporam parte da sonoridade explorada por veteranos como Fugazi, Nirvana e Weezer.

Essa mesma força criativa acaba se refletindo em The Shadow I Remember (2021). Nono e mais recente trabalho de estúdio da banda completa por TJ Duke (baixo), Jayson Gerycz (bateria) e Chris Brown (guitarra), o registro segue uma trilha completamente distinta em relação ao material entregue no ainda recente The Black Hole Understands (2020), álbum produzido à distância entre Baldy e Gerycz durante o período de isolamento social. São canções que preservam a essência melódica do repertório entregue há poucos meses, porém, sempre regidas pela crueza das guitarras.

Perfeita representação desse resultado pode ser percebida logo nos primeiros minutos do álbum, em Olso. Inaugurada em meio a ambientações serenas, a faixa rapidamente se transforma em um turbilhão em que Baldi e seus parceiros de banda trazem de volta a força explícita em Here and Nowhere Else e Last Building Burning (2018). São camadas de guitarras, ruídos e blocos imensos de distorção, conceito que ganha ainda mais destaque na letra da canção. “É difícil te ver neste lugar / É difícil estar perto do seu nome / Quando tudo que eu sei é que não vai demorar muito“, canta em tom angustiado, apontando a direção seguida no restante do trabalho.

Como tudo aquilo que Baldi tem produzido desde os primeiros registros autorais, The Shadow I Remember parte de experiências sentimentais e conflitos vividos pelo artista como precioso elemento de diálogo com o ouvinte. São canções que passeiam por relacionamentos fracassados, delírios e momentos de doce melancolia, estímulo para a produção de faixas como a intensa The Spirit Of (“Quem sou eu para ser? Eu preferia ter caído / Sob o seu amor“) e Open Rain (“Você entrou no meu coração / E eu quero saber se é verdade / E eu quero ver com você“), essa última, alavancada pela força das guitarras e sempre versátil bateria de Gerycz.

Interessante notar que mesmo imerso nesse cenário caótico, Baldi em nenhum momento se distancia da produção de faixas deliciosamente acessíveis, como um aceno para os primeiros trabalhos da banda. Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos da obra, em Nothing Without You. Completa pela participação Macie Stewart, uma das metades da dupla OHMME, a canção parece pensada para grudar na cabeça do ouvinte. Do uso complementar dos teclados à letra cantarolável, tudo soa como um resgate do mesmo rock melódico detalhado em músicas como I’m Not Part of Me, Stay Useless e demais criações que apresentaram o som produzido pelo Cloud Nothings no início da década passada.

Observado de maneira atenta, The Shadow I Remember soa como uma extensão natural de tudo aquilo que a banda havia testado em Attack on Memory e Here and Nowhere Else. Canções que preservam a crueza e lirismo confessional de Baldi, porém, de forma sempre acessível, direcionamento que vai da explosão sentimental explícita em Oslo à derradeira The Room It Was. A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da banda está na forma como o músico mantém firme a crueza e profunda entrega durante toda a execução da obra, como um acúmulo natural das experiências vividas nos últimos meses.

Ouça:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.