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Crítica

Cults

: "Host"

Ano: 2020

Selo: Sinderlyn

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Tennis, Best Coast e Frankie Rose

Ouça: No Risk,Spit You Out e Trials

7.0
7.0

Cults: “Host”

Ano: 2020

Selo: Sinderlyn

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Tennis, Best Coast e Frankie Rose

Ouça: No Risk,Spit You Out e Trials

/ Por: Cleber Facchi 25/09/2020

Quando surgiu, no início da década passada, o Cults parecia assumir uma posição de destaque frente ao crescente número de artistas interessados em explorar o uso de temas litorâneos e referências nostálgicas. No repertório, composições como You Know What I MeanGo Outside e Abducted que pareciam alcançar um ponto de equilíbrio entre o pop ensolarado de nomes como The Beach Boys e as melodias cantaroláveis do Fleetwood Mac. Nove anos após o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, satisfatório perceber nas canções de Host (2020, Sinderlyn), quarto e mais recente álbum de estúdio da banda nova-iorquina, um parcial regresso ao mesmo território criativo.

Sequência ao material entregue em Offering (2017), o novo álbum preserva a atmosfera soturna que tem sido incorporada desde a produção de Static (2013), há sete anos, porém, partindo de um novo direcionamento estético. São vozes tratadas como instrumentos, guitarras empoeiradas e instantes que parecem transportar o ouvinte para o início dos anos 1970. Pouco mais de 40 minutos em que Madeline Follin e Brian Oblivion parecem testar os próprios limites dentro de estúdio, fragmentando uma série de elementos que tem sido explorados pela banda desde os primeiros registros autorais.

Prova disso está na própria faixa de abertura do álbum, Trials. Inaugurada em meio a sintetizadores cósmicos, percussão minimalista e guitarras carregadas de efeitos, a música chama a atenção pelo inusitado uso de arranjos de cordas e pequenos respiros instrumentais que potencializam os sentimentos detalhados por Follin ao longo da canção. “Eu conheci um estranho com a sua pele e os mesmos olhos / Eu conheço você / Com palavras, ele tinha um jeito como você também / Aonde você foi?“, questiona enquanto se afunda em um território marcado pelas próprias incertezas, conceito que acaba se refletindo em outros momentos longo da obra.

O mesmo resgate conceitual e lirismo melancólico pode ser percebido mais à frente, na já conhecida No Risk. Enquanto a base instrumental da canção parece apontar diretamente para o primeiro álbum da banda, conceito reforçado no tratamento dado aos teclados e vozes, nos versos, Follin amplia toda a carga emocional que parece servir de sustento ao disco, estreitando a relação com o próprio ouvinte. “Em uma sala lotada cheia de vazio / Estou com fome, mas de alguma forma ainda me sinto revigorada / Eu poderia andar em círculos por milhas / Batimento acelerando“, canta.

Claro que nem tudo pode ser encarado como um simples resgate conceitual dos antigos trabalhos da banda. A própria 8th Avenue, logo nos primeiros minutos do álbum, sintetiza isso com naturalidade. Trata-se do mesmo olhar para a produção dos anos 1960/1970, porém, reforçando a essência psicodélica que sutilmente escapa das guitarras de Oblivion. Mesmo Monolithic, no encerramento do disco, mostra o desejo da dupla em avançar criativamente. São melodias enevoadas, arranjos de cordas e vozes carregadas de efeitos, como um diálogo breve com o dream pop produzido na segunda metade dos anos 1980.

Equilibrado, como tudo aquilo que o Cults tem produzido desde o registro anterior, Host costura passado e presente da banda norte-americana de forma sempre atrativa. Não se tratada de uma obra revolucionária ou mesmo capaz de replicar o impacto causado durante o lançamento do homônimo debute da banda, porém, do momento em que tem início, em Trials, até alcançar a derradeira Monolithic, difícil não se deixar conduzir pela experiência proposta pela dupla. São delicadas camadas instrumentais, melodias e versos sempre sensíveis, indicativo de um álbum seguro, como se Follin e Oblivion soubessem exatamente que direção seguir dentro de estúdio.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.