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Crítica

Cut Copy

: "Freeze, Melt"

Ano: 2020

Selo: Cutters Records / The Orchard

Gênero: Eletrônica, Synthpop, Indietronica

Para quem gosta de: Hot Chip e Metronomy

Ouça: Like Breaking Glass e Love Is All We Share

7.0
7.0

Cut Copy: “Freeze, Melt”

Ano: 2020

Selo: Cutters Records / The Orchard

Gênero: Eletrônica, Synthpop, Indietronica

Para quem gosta de: Hot Chip e Metronomy

Ouça: Like Breaking Glass e Love Is All We Share

/ Por: Cleber Facchi 25/08/2020

Quando se tem em mãos dois grandes exemplares da produção eletrônica, caso de In Ghost Colours (2008) e Zonoscope (2011), além, claro, de algumas das composições mais dançantes das últimas duas décadas, como Hearts on Fire, Need You Now e Light & Music, é mais do que natural esperar por uma continuação desse mesmo direcionamento estético. Entretanto, foi justamente essa tentativa do Cut Copy em se repetir criativamente dentro de estúdio que garantiu ao público algumas das obras menos expressivas do quarteto australiano, vide o péssimo desempenho de Haiku From Zero (2017), e toda uma sequência de faixas que se acumulam ao longo dos anos.

Satisfatório perceber nas canções de Freeze, Melt (2020, Cutters Records / The Orchard), sexto e mais recente álbum de estúdio do grupo formado por Dan Whitford, Tim Hoey, Mitchell Scott e Ben Browning, um precioso ponto de ruptura criativa. Longe das pistas, o quarteto de Melbourne investe na produção de um repertório puramente atmosférico. São camadas de sintetizadores, vozes tratadas como instrumentos e pequenas sobreposições rítmicas que refletem a busca do quarteto por uma sonoridade cada vez mais contemplativa, indicativo de uma nova fase na carreira do Cut Copy.

Exemplo disso ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, em Cold Water. Enquanto a poesia cíclica de Whitford se projeta como um mantra – “A liberdade está pulsando no oceano / A liberdade é tudo, mas não serei livre do amor –, texturas eletrônicas, ruídos e sintetizadores parecem borbulhar ao fundo da canção, cercando e confortando o ouvinte. São inserções minuciosas que refletem o mesmo esmero evidente nos antigos trabalhos da banda, porém, partindo de um novo direcionamento temático, como um diálogo do grupo australiano com a produção eletrônica da década de 1970, principalmente no cenário japonês.

Do tratamento dado aos sintetizadores ao uso das batidas, tudo faz lembrar da obra de veteranos como Haruomi Hosono e Ryuichi Sakamoto. A própria imagem de capa do disco, com uma vista para o Monte Fuji, reforça essa relação da banda com a cultura oriental. Entretanto, longe de adotar um único conceito, Whitford e seus parceiros vão além. Difícil ouvir Love Is All We Share e não lembrar de nomes como Kraftwerk, efeito direto da base eletrônica e vozes sempre carregadas de efeitos. São pequenos estudos sobre cenas e acontecimentos cotidianos, proposta que orienta a experiência do ouvinte até o último instante do álbum, na doce In Transit.

Mesmo regido pelo uso de ambientações sutis, Freeze, Melt flerta com as pistas em momentos estratégicos. Exemplo disso acontece em Like Breaking Glass, música que alcança um ponto de equilíbrio entre os temas dançantes de Zonoscope e base atmosférica do presente álbum. “Cada coração que bate agora / Bate como o som / De vidro quebrando / Cada respiração violenta / Dói, então eu sei / Eu ainda estou apaixonado“, confessa Whitford enquanto o ouvinte é convidado a dançar. São batidas quentes, como uma parcial fuga do reducionismo que embala o restante da obra, estrutura que volta a se repetir mais à frente, em Stop, Horizon, composição também adornada pelo uso de temas orientais.

Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, Freeze, Melt preserva grande parte dos elementos que fizeram do grupo australiano um dos mais significativos do gênero, porém, partindo de um nova abordagem. Da construção das batidas ao uso dos sintetizadores, perceba como o Cut Copy faz de cada composição um delicado objeto de estudo. São incontáveis camadas instrumentais e texturas eletrônicas que exigem uma audição atenta por parte do ouvinte. Instantes em que o somos convidados a mergulhar em um universo de pequenos detalhes, indicativo do completo esmero do quarteto de Melbourne durante toda a execução da obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.