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Crítica

Dan Deacon

: "Mystic Familiar"

Ano: 2020

Selo: Domino

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Animal Collective e Fuck Buttons

Ouça: Sat By a Tree e Fell into the Ocean

7.5
7.5

Dan Deacon: “Mystic Familiar”

Ano: 2020

Selo: Domino

Gênero: Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Animal Collective e Fuck Buttons

Ouça: Sat By a Tree e Fell into the Ocean

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2020

É interessante perceber a transformação de Dan Deacon ao longo dos anos. Se em início de carreira o produtor norte-americano parecia investir em um som puramente experimental, base para o introdutório Spiderman of the Rings (2007) e Bromst (2009), com a chegada do conceitual America (2012), o artista de Baltimore, Maryland, passou a investir em uma sonoridade menos anárquica, porém, ainda inventiva. São camadas de sintetizadores, ruídos eletrônicos e vozes ocasionais, produto do permanente esforço do músico em se reinventar criativamente, provando de novas possibilidades a cada novo álbum de estúdio.

Longe de parecer uma surpresa, é exatamente isso que o ouvinte encontra em Mystic Familiar (2020, Domino). Primeiro trabalho de estúdio desde Gliss Riffer (2015), o novo disco mostra completo domínio de Deacon sobre a própria obra, indicativo da maturidade alcançada não apenas no catálogo de registros apresentados na última década, mas, principalmente, na série de álbuns produzidos para diferentes trilhas sonoras, caso das aterrorizantes Twix (2011), Rat Film (2017) e a ainda recente Time Trial (2018).

Síntese desse evidente esmero na composição do trabalho está em Sat By a Tree, terceira faixa do disco. Da construção das batidas e temas eletrônicos, passando pelo uso destacado dos sintetizadores e harmonias de vozes, tudo parece pensado para impressionar o ouvinte, efeito direto do refinamento na composição de cada elemento. Frações poéticas e instrumentais que se entrelaçam de forma crescente, como uma interpretação acessível de tudo aquilo que o produtor norte-americano havia testado em America.

Vem justamente do terceiro álbum de estúdio do produtor, com suas canções fracionadas, a base para a sequência composta por Arp I: Wide Eyed, Arp II: Float Away, Arp III: Far from Shore e Arp IV: Any Moment. São pouco mais de 11 minutos em que Deacon se concentra na entrega de um material complementar, como se cada faixa servisse de passagem para a canção seguinte. Uma criativa colagem de ideias que vai da música erudita ao experimentalismo eletrônico de forma sempre inexata, estrutura que se reflete mais à frente, em Bumble Bee Crown King, com seus sintetizadores psicodélicos e ambientações delirantes.

O grande problema de Mystic Familiar, como tudo aquilo que Dan Deacon tem produzido desde Brost, está na estrutura previsível que embala as canções. São melodias eletrônicas, batidas e vozes sobrepostas, como se tudo partisse de um mesmo molde conceitual. Claro que isso não interfere na composição de músicas como a minimalista Fell into the Ocean. Faixa que mais se distancia do restante da obra, a canção parece jogar com o uso de ambientações contidas e versos sempre complementares, como uma propositada fuga dos excessos que orientam o restante da obra.

Misto de resgate conceitual e delicado aprimoramento estético, Mystic Familiar reflete a imagem de um artista pouco avança criativamente, porém, joga de forma inteligente com o próprio conjunto de regras. Ainda que pareça contido dentro do universo há muito desvendado em estúdio, difícil não se deixar guiar pela minúcia na composição dos arranjos, ruídos sintéticos e temas instrumentais que convidam o ouvinte a flutuar. Uma evidente sensação conforto em um ambiente marcado pela constante fragmentação das ideias.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.