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Crítica

Darkside

: "Spiral"

Ano: 2021

Selo: Matador

Gênero: Experimental, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Floating Points e Nicolas Jaar

Ouça: The Limit e Lawmaker

7.0
7.0

Darkside: “Spiral”

Ano: 2021

Selo: Matador

Gênero: Experimental, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Floating Points e Nicolas Jaar

Ouça: The Limit e Lawmaker

/ Por: Cleber Facchi 05/08/2021

Dividido entre momentos de maior experimentação e faixas estranhamente acessíveis, Psychic (2013), estreia do Darkside, reflete o completo domínio de Nicolas Jaar e Dave Harrington em estúdio. São pouco mais de 40 minutos em que os dois instrumentistas se revezam na produção de temas atmosféricos, texturas e vozes submersas, proposta que vai da extensa Golden Arrow, com mais de 11 minutos de duração, e segue com naturalidade até a derradeira Metatron. Um precioso exercício criativo em que cada mínimo fragmento faz a diferença, cuidado evidente mesmo nas apresentações ao vivo da dupla norte-americana, vide o material entregue em Psychic Live July 17 2014 (2020), um dos últimos registros de Jaar e Harrington antes do encerramento temporário do projeto.

Oito anos após o lançamento do trabalho, os dois instrumentistas estão de volta com um novo disco de inéditas, Spiral (2021, Matador). Naturalmente íntimo de tudo aquilo que Jaar e Harrington haviam testado no álbum anterior, o registro de essência atmosférica ganha forma em uma medida própria de tempo, revelando incontáveis camadas instrumentais, fragmentos de vozes e momentos de maior delírio que fazem a mente do ouvinte se transportar. A diferença está na forma como a dupla se permite transitar por entre ritmos, apontando para diferentes campos da música, como em Liberty Bell, faixa que preserva a sonoridade torta do Darkside, porém, incorpora elementos da cultura oriental, como no tratamento dado às guitarras e base percussiva que corre ao fundo da canção.

Surgem ainda diálogos com a produção psicodélico dos anos 1970, conceito bastante evidente em Lawmaker e I’m the Echo, músicas que esbarram nas criações de Pink Floyd e George Harrison, mesmo alinhadas ao som labiríntico e texturas que tem sido incorporadas por Jaar e Harrington desde os primeiros registros autorais, video o material entregue no homônimo EP de estreia da dupla, lançado em 2011. Mesmo as vozes assumem um papel ainda mais importante em relação ao repertório apresentado em Psychic. São letras cíclicas, como mantras, proposta explícita em The Limit, logo nos primeiros minutos do trabalho, mas que acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra, como na já citada Liberty Bell, composição potencializada pelo encaixe das batidas.

O problema é que nessa tentativa de incorporar novos elementos e ampliar os limites da obra, Jaar e Harrington entregam ao público um registro ausente de ritmo e excessivamente longa. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do trabalho, qual do músicas como Inside Is Out There e a própria faixa-título quebram completamente o andamento do álbum, tornando a experiência de ouvir o material arrastada. Mesmo a sequência formada por The Question Is To See It All, Lawmaker e I’m the Echo utiliza de componentes rítmicos e arranjos tão parecidos que é difícil saber quando começa uma faixa e termina outra. É como se a dupla rompesse com a abordagem equilibrada do disco anterior, onde cada composição parecia funcionar com um objeto isolado, sempre relevante.

Parte dessa evidente sensação de desgaste vem do fato de que muitas das canções apresentadas em Spiral utilizam de elementos previamente testados por Jaar em uma série de obras recentes em carreira solo. Somente no último ano, foram três registros autorais ancorados em conceitos bastante similares, vide as texturas e efeitos de Cenizas (2020), os improvisos de Telas (2020), ou mesmo as batidas aplicadas em 2017–2019 (2020), pelo paralelo Against All Logic. Mesmo as guitarras e temas instrumentais explorados por Harrington pouco se distanciam do material entregue pelo artista em Pure Imagination, No Country (2019), último disco do Dave Harrington Group. Uma permanente reciclagem de conceitos que se reflete inclusive nos momentos de maior ruptura do álbum.

Claro que isso não distancia o ouvinte de algumas surpresas. Exemplo disso acontece na derradeira, Only Young, música que destaca a habilidade de Jaar como compositor e serve de passagem para um novo território criativo, tratamento que vai do uso das vozes ao refinamento dado aos arranjos. Mesmo composições como Lawmaker e Liberty Bell refletem a capacidade da dupla em dialogar com uma parcela ainda maior do público, porém, permanentemente imersos em um ambiente marcado pela experimentação e imprevisível colagem de ideias. São momentos de evidente acerto e quebra conceitual que não apenas pervertem a forte morosidade que consome o disco, como tornam a experiência de ouvir o trabalho bastante satisfatória, mesmo que por alguns minutos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.