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Crítica

Deafheaven

: "Infinite Granite"

Ano: 2021

Selo: Sargent House

Gênero: Black Metal, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Alcest e Lantlôs

Ouça: Great Mass of Colour e Mombasa

7.5
7.5

Deafheaven: “Infinite Granite”

Ano: 2021

Selo: Sargent House

Gênero: Black Metal, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Alcest e Lantlôs

Ouça: Great Mass of Colour e Mombasa

/ Por: Cleber Facchi 31/08/2021

Quando surgiu no início da década passada, o Deafheaven foi visto com bastante desconfiança por parte do público conservador. Do corte de cabelo ao figurino, dos temas incorporados em cada composição ao distanciamento de outros nomes importantes do black metal, evidente era o esforço do grupo de São Francisco, Califórnia, em trilhar um caminho particular, consolidando a própria identidade. E isso se reflete no material entregue após o introdutório Roads to Judah (2011), caso de Sunbather (2013), New Bermuda (2015) e o intenso Ordinary Corrupt Human Love (2018), registro marcado pelo maior refinamento melódico e busca por novas possibilidades dentro de estúdio.

Dez anos após o lançamento do primeiro registro de inéditas, George Clarke (voz), Kerry McCoy (guitarra), Daniel Tracy (bateria), Shiv Mehra (guitarra, voz de apoio, sintetizadores) e Chris Johnson (baixo, voz de apoio) continuam a provocar o ouvinte enquanto testam os próprios limites. Em Infinite Granite (2021, Sargent House), o grupo preserva a essência dos antigos trabalhos, porém, rompe com uma série de elementos esperados de um disco do gênero. Do parcial abandono das vozes guturais, passando pela evidente desaceleração e maior refinamento no processo de composição dos arranjos, cada elemento parece transportar o álbum para um novo território criativo.

São guitarras atmosféricas, delicadas paisagens instrumentais, distorções comedidas e momentos de maior calmaria, estrutura que invariavelmente aponta para a obra de veteranos como Slowdive e My Bloody Valentine. Exemplo disso acontece logo na sequência de abertura do álbum, com Shellstar e a já conhecida In Blur. Do uso das vozes, sempre serenas, passando pelo desenho ondulado das guitarras, poucas vezes antes o som produzido pelo quinteto californiano pareceu tão acessível e acolhedor. É como se a banda despisse o registro de todo e qualquer excesso, revelando ao público um trabalho que flutua em meio a reverberações etéreas, mas com os dois pés ainda presos ao chão.

Se por um lado essa mudança de estrutura tinge com incerteza e parcial ineditismo a experiência do ouvinte, por outro, difícil ignorar o desejo pela habitual turbulência que o Deafheaven tem promovido desde o início da carreira. Salve excessões, como nas vozes berradas que invadem os minutos finais de Great Mass Of Color, uma das grandes composições do disco, tudo gira em torno de um limitado conjunto de ideias. São canções dotadas de inegável beleza, versos consumidos pelos sentimentos e minucioso processo de criação, porém, exageradamente contidas, como se as regras apresentadas pelo quinteto logo nos primeiros minutos da obra orientassem todo o desenvolvimento do álbum.

Não por acaso, sobrevive nos momentos em que a banda mais se distancia desse resultado a passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso da derradeira Mombasa. Pouco mais de oito minutos em que o grupo preserva a essência atmosférica do restante da obra, investindo na inserção de guitarras melódicas e momentos quase transcendentais, porém, reservando a porção seguinte do material para investir em um som essencialmente caótico. São batidas e guitarras fortes, sempre ruidosas, estrutura que se completa pelas vozes guturais de Clarke e permanente descontrole do grupo, como um regresso temporário ao som torto de Sunbather.

Curioso e inusitado quando próximo de tudo aquilo que o Deafheaven havia apresentado anteriormente, Infinite Granite nasce como o completo oposto do material entregue pelo grupo em Ordinary Corrupt Human Love, porém, está longe de ser encarado como um trabalho ruim ou menos significativo. Do completo refinamento no uso das guitarras ao tratamento dado aos versos, sempre centrados em conflitos familiares, ansiedades sociais e questões existencialistas, cada mínimo fragmento da obra não apenas reflete a segurança e evidente domínio criativo do quinteto, como reforça a capacidade da banda em continuamente em tensionar a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.