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Crítica

Deftones

: "Ohms"

Ano: 2020

Selo: Reprise

Gênero: Rock Alternativo, Metal Alternativo

Para quem gosta de: Team Sleep e Faith No More

Ouça: Genesis, Error e Ohms

8.0
8.0

Deftones: “Ohms”

Ano: 2020

Selo: Reprise

Gênero: Rock Alternativo, Metal Alternativo

Para quem gosta de: Team Sleep e Faith No More

Ouça: Genesis, Error e Ohms

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2020

O Deftones é o caso raro de uma banda que não apenas sobreviveu ao teste do tempo, como tem feito de cada novo trabalho de estúdio um necessário ponto de renovação e fúria dentro da própria discografia. São mais de três décadas de carreira e uma sequência de obras marcadas pelo caráter contestador das canções e temas incorporados pelo grupo de Sacramento, Califórnia. De clássicos imediatos, como Around the Fur (1997) e White Pony (2000), passando por registros ainda recentes, como Koi No Yokan (2012) e Gore (2016), sobram momentos em que Chino Moreno, Stephen Carpenter, Abe Cunningham, Frank Delgado e Sergio Vega mantém firme a própria relevância artística.

Prova disso acontece nas canções de Ohms (2020, Reprise). Nono e mais recente trabalho de estúdio do grupo californiano, o registro mostra a capacidade do Deftones em alternar entre momentos de sufocante turbulência e pequenos respiros instrumentais. São blocos imensos de ruídos, vozes berradas, batidas e ambientações sujas que concentram em suas rachaduras instantes de maior leveza. Um misto de caos e doce melancolia, estrutura que naturalmente evoca o material apresentado no icônico White Pony, porém, partindo de um novo direcionamento estético.

Parte desse curioso olhar para o próprio passado vem da escolha da banda em, mais uma vez, estreitar a relação com o produtor Terry Date. Parceiro do grupo californiano desde o início da carreira e colaborador em algumas de suas obras mais importantes, Date acompanhou o Deftones até a produção do mítico Eros (2008), obra arquivada por conta do trágico acidente envolvendo o baixista Chi Cheng (1970-2013). Em Ohms, o engenheiro de som que já trabalhou ao lado de nomes como The Smashing Pumpkins e Soulfly, tensiona o quinteto durante todo o processo de formação do registro. O resultado desse esforço está na entrega de uma obra densa e consistente, como uma quebra em relação ao diverso Gore.

De fato, do momento em que tem início, em Genesis, até alcançar a autointitulada música de encerramento, perceba como o grupo se concentra em ambientar o ouvinte dentro de um mesmo território conceitual. É como se cada composição servisse de passagem para a faixa seguinte, indicativo do completo domínio do quinteto em relação à própria obra. Exemplo disso pode ser percebido com maior naturalidade na sequência formada por Pompeji e This Link Is Dead. São pouco mais de dez minutos em que somos convidados a se perder em um território de essência labiríntica. Incontáveis camadas instrumentais, texturas e sintetizadores que se entrelaçam de forma precisa, acompanhando cada fragmento de voz detalhado por Moreno.

Mesmo os versos de cada composição partem sempre de uma mesma base lírica. São conflitos existencialistas, criações que discutem a passagem do tempo e a necessidade de seguir em frente, soterrando memórias de um passado ainda recente. “Me conte algo / Nós escapamos? / Estamos apenas perdidos?“, questiona Moreno em Error, quarta faixado disco. É como se o músico californiano e seus parceiros de banda fizessem dos próprios conflitos um importante componente de diálogo com o ouvinte, conceito que se reflete em algumas das principais canções do álbum, como Radiant City (“Sente-se sozinho dentro dessas ilusões que enfrentamos“) e a já citada faixa-título (“Estamos cercados por detritos do passado / E é tarde demais para causar uma mudança nas marés“).

Tamanho esmero no processo de composição do trabalho garante ao público uma obra que captura a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição, sem grandes dificuldades. Do tratamento dado às guitarras, sempre colossais, passando pelo lirismo inquietante que toma conta dos versos, poucas vezes antes o Deftones pareceu estreitar a relação como público de forma tão imediata quanto nas canções de Ohms. E não poderia ser diferente. São apenas dez faixas, pouco mais de 40 minutos de duração e um repertório que encanta pela completa ausência de possíveis excessos, como se o grupo californiano soubesse exatamente que direção seguir dentro de estúdio.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.