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Crítica

Deradoorian

: "Find The Sun"

Ano: 2020

Selo: ANTI-

Gênero: Rock, Rock Psicodélico, Art Rock

Para quem gosta de: U.S. Girls e Julia Holter

Ouça: Saturnine Night e Corsican Shores

7.7
7.7

Deradoorian: “Find The Sun”

Ano: 2020

Selo: ANTI-

Gênero: Rock, Rock Psicodélico, Art Rock

Para quem gosta de: U.S. Girls e Julia Holter

Ouça: Saturnine Night e Corsican Shores

/ Por: Cleber Facchi 30/09/2020

Cantora, compositora e multi-instrumentista, Angel Deradoorian passou grande parte da última década se aventurando em diferentes projetos da cena norte-americana. São colaborações com Flying Lotus (Siren Song), The Roots (A Peace of Light), Rostam (Hold You) e Brandon Flowers (Dreams Come True), além, claro, de outros registros particulares. Canções que transitam por diferentes gêneros e tendências de forma sempre inexata, indicativo da completa versatilidade da artista que começou a carreira como integrante do Dirty Projectors, mas que aos poucos conquistou seu próprio território, vide o material entregue no diverso The Expanding Flower Planet (2015), primeiro álbum em carreira solo.

Cinco anos após o lançamento do último trabalho de estúdio, Deradoorian está de volta com um novo registro de inéditas: Find The Sun (2020, ANTI-). Tão aventureiro quanto o álbum que o antecede, o disco produzido e gravado em um intervalo de poucas semanas reflete o desejo da artista californiana em ampliar os próprios domínios criativos. Canções que apontam diretamente para a produção psicodélica dos anos 1970, direcionamento que se reflete tão logo a obra tem início, em Red Den, mas que embala a experiência do ouvinte até a extensa música de encerramento, Sun.

A diferença entre Deradoorian em relação a outros nomes recentes que continuam a revisitar o passado está na direção apontada pela artista. São canções que evocam a essência delirante de veteranos como Can, Nico e demais personagem da produção germânica, como uma fuga dos exageros típicos de obras do gênero. Exemplo disso acontece na crescente Saturnine Night. Pouco mais de sete minutos em que o ouvinte é convidado a se perder um labirinto de vozes sobrepostas, guitarras e batidas secas, emulando a atmosfera de algumas das principais músicas apresentadas pelo Neu!, como Hallogallo e ISI.

Entretanto, mesmo nesse curioso olhar para o passado, Deradoorian em nenhum momento perde o caráter autoral da própria obra. São letras contemplativas, versos confessionais e fragmentos poéticos que se conectam diretamente à base instrumental do disco. Perfeita representação desse resultado acontece em The Illuminator, quinta faixa do álbum. Em um misto de canto e rima, a artista revela ao público uma espécie de mantra, conduzindo a experiência do ouvinte durante mais de nove minutos de duração. “O poder da iluminação / O poder de ser / O poder que destrói a resistência“, detalha em meio a arranjos tortos, sopros e ruídos ocasionais.

Parte desse resultado vem do próprio processo de composição do disco. Durante as gravações do álbum, Deradoorian passou por um retiro espiritual onde ficou dez dias no mais completo silêncio, sem proferir uma só palavra. Não por acaso, grande parte das canções de Find The Sun surgem como pequenos fluxos de pensamento. São inquietações e experiências particulares que surgem diretamente a partir desse processo de reclusão, conceito que acaba se refletindo em algumas das principais músicas do trabalho, como Monk’s Robes, Mask of Yesterday e Corsican Shores.

Curioso notar que mesmo partindo de um exercício pessoal, Find The Sun talvez seja o trabalho em que Deradoorian mais se permite dialogar com outros artistas dentro de estúdio. É o caso do multi-instrumentista Dave Harrington, com quem divide parte expressiva das composições, o percussionista Samer Ghadry, além, claro, de Sonny DiPerri, co-produtor do disco e parceiro de nomes como Animal Collective e Portugal. The Man. São inserções pontuais que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra, proposta que amplia consideravelmente tudo aquilo que a cantora havia testado durante o lançamento de The Expanding Flower Planet.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.