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Crítica

Karina Buhr

: "Desmanche"

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Rock, Rock Alternativo, MPB

Para quem gosta de: Josyara, Ava Rocha e Anelis Assumpção

Ouça: Sangue Frio, Amora e Filme de Terror

8.5
8.5

“Desmanche”, Karina Buhr

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Rock, Rock Alternativo, MPB

Para quem gosta de: Josyara, Ava Rocha e Anelis Assumpção

Ouça: Sangue Frio, Amora e Filme de Terror

/ Por: Cleber Facchi 30/07/2019

A crueza explícita logo nos primeiros minutos de Sangue Frio, música de abertura de Desmanche (2019, Independente), funciona como um indicativo claro do material produzido para o quarto e mais recente álbum de estúdio de Karina Buhr. Sequência ao também urgente Selvática (2015), obra marcada pelo forte discurso feminista, o novo disco sustenta na crueza das guitarras e percussão destacada o alicerce criativo para o lirismo político que serve de sustente ao disco. Composições marcadas pelo criativo jogo de palavras, conceito que vem sendo aprimorado pela cantora e compositora baiana desde a estreia com Eu Menti pra Você (2010).

O tempo tá matador / Precisando exercitar paz e amor“, canta logo nos primeiros minutos do disco, estímulo para a inserção de guitarras corroídas pela distorção e a ambientação quase tribal dos tambores, como um resgate do mesmo universo criativo detalhado pela cantora no Comadre Fulozinha, com quem lançou três bons álbuns de estúdio. São versos curtos, rápidos, porém, sempre precisos, como se Buhr soubesse exatamente como acertar o ouvinte, conquistando a atenção do púbico tão logo o registro tem início.

Interessante notar que essa mesma ferocidade acaba se refletindo durante toda a execução da obra. São faixas como a punk Temperos Destruidores (“Bombas incessantes sobre as cidades / Mais intensidade no matar / Ancestrais revirando tumbas / Hordas de guerreiros zumbis“), com suas guitarras carregadas de efeitos, e a crescente A Casa Caiu (“Não sou desejado por perto / Busco o correto na palma / Prensando pausa e labuta / Sem dinheiro pro boleto / A casa caiu!“), uma minuciosa reflexão sobre o atual cenário político do Brasil e uma cobrança por resposta aos crimes ambientais ocorridos em Brumadinho e Mariana.

Mesmo quando desacelera, como em Filme de Terror, evidente é o cuidado da artista na composição de cada fragmento poético. Um misto de canto e rima que se completa pela pela breve participação de Max B.O. no decorrer da canção. “É mentira o que dizem os filmes de amor / Vendo que / É mentira o que dizem os filmes pornô / Vendo que / De verdade só os filmes de terror“, canta enquanto a base da canção se espalha em meio a batidas e pianos contidos, quase climáticos, flertando com uma sonoridade latina.

Em Amora, segunda faixa do disco, a mesma leveza na composição dos arranjos. A principal diferença está na forma como Buhr utiliza das próprias desilusões amorosas como um estímulo para dialogar com ouvinte. “Sinto mas não vou voltar / Se quiser me ver vem … A alma amorna par em par / calma nenhuma / Parece amor / Vermelho, roxo e fogo / Parece amora“, desaba. São melodias e versos tristes que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa, estrutura que acaba se refletindo no pop atmosférico de Peixes Tranquilos, canção marcada pelo violão minucioso e psicodélico de Regis Damasceno, co-produtor do trabalho.

Produto da completa versatilidade de Buhr, Desmanche parece jogar com as possibilidades, fazendo de cada composição um curioso exercício criativo. Instantes em que a cantora convida o ouvinte a dançar, como na base cíclica que invade Chão de Estrela, ou mesmo faixas em que resgata elementos dos primeiros trabalhos em estúdio, caso de Vida Boa é a do Atrasado, colaboração com Isaar, parceira de longa data no Comadre Fulozinha. Recortes instrumentais e poéticos que partem de reflexões políticas para mergulhar em inquietações particulares da própria artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.