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Ano: 2019

Selo: Nonesuch

Gênero: Indie, Folk, World Music

Para quem gosta de: Rodrigo Amarante e Kevin Morby

Ouça: Carolina, Memorial e Kantori Ongaku

7.8
7.8

Devendra Banhart: “Ma”

Ano: 2019

Selo: Nonesuch

Gênero: Indie, Folk, World Music

Para quem gosta de: Rodrigo Amarante e Kevin Morby

Ouça: Carolina, Memorial e Kantori Ongaku

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2019

Seja no minimalismo de obras como Rejoicing in the Hands (2004), ou na colorida sobreposição de ideias que embala o colaborativo Smokey Rolls Down Thunder Canyon (2007), registro que contou com a interferência de nomes como Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Nick Valensi (The Strokes), Devendra Banhart sempre soube como transformar a música vinda de diversas partes do mundo na matéria-prima para o próprio trabalho. E não poderia ser diferente. De essência cigana, o cantor e compositor de ascendência venezuelana tem feito dessa criativa costura melódica a base para cada novo registro autoral. Uma riqueza de detalhes que alcança novo resultado no plural Ma (2019, Nonesuch).

Concebido a partir da incursão do músico norte-americano por diferentes templos no Japão, o trabalho produzido em parceria com o experiente Noah Georgeson, colaborador de longa data do artista, nasce como uma clara tentativa de Banhart em ampliar os próprios limites criativos. Não por acaso, o cantor fez de Kantori Ongaku o primeiro single do disco. Declaradamente inspirada pela obra de Haruomi Hosono, um dos nomes mais importantes da música pop oriental e co-fundador do Yellow Magic Orchestra, a canção se espalha em meio a reverberações nostálgicas que vão do rock dos anos 1970 à música sertaneja dos Estados Unidos. O próprio título da canção – uma adaptação japonesa para “country music” –, funciona como um indicativo claro do som produzido para o disco.

Entretanto, longe de fixar residência em um gênero ou conceito específico, Banhart utiliza do presente álbum como um estímulo para dialogar com diferentes campos da música. Exemplo disso está na tropicalista Abre Las Manas, faixa que parece saída de algum disco de Caetano Veloso ou Gilberto Gil no final da década de 1960. A própria Carolina, com versos cantados em português, reforça o fascínio do artista norte-americano pela produção brasileira. São fragmentos de vozes e arranjos diminutos, quase imperceptíveis, estrutura que naturalmente aponta para a obra de João Gilberto, leveza que vem sendo aprimorada pelo músico desde a estreia com The Charles C. Leary (2002).

Interessante notar que mesmo conceitualmente versátil, Ma está longe de parecer uma obra confusa ou desorientada. Pelo contrário: esse talvez seja o trabalho mais coeso de Banhart em anos. Perceba como tudo parece flutuar em meio a ondulações minimalistas, sempre precisas, destacando cada elemento apresentado pelo artista no decorrer da obra. Seja no refinamento nostálgico de Ami, música que vai parece flertar com o mesmo pop empoeirado de Ape in Pink Marble (2016), ou na estrutura crescente de My Boyfriend’s in the Band, poucas vezes antes o músico texano pareceu exercer tamanho domínio sobre a própria obra, amarrando todas as pontas do trabalho de forma minuciosa.

E isso se reflete na forma como os próprios versos são apresentados no decorrer da obra. Embora capazes de dialogar com diferentes esferas políticas e sociais, tudo gira em torno da relação do próprio Banhart com a passagem do tempo e a relação entre os indivíduos. É o caso de Memorial, música em que reflete sobre a recente morte de familiares próximos, melancolia que faz lembrar da obra de Leonard Cohen, porém, preservando a essência do próprio artista, entrega que se reflete em outras composições no decorrer da obra, como Love Song, October 12 e a já citada Now All Gone.

Delicado, como parte expressiva da obra de Banhart, Ma segue a trilha de outros registros recentes produzidos pelo músico norte-americano, caso do também versátil Mala (2013). Da escolha dos temas à fluidez dos versos, sempre ancorados em diferentes idiomas, tudo se projeta como parte de um colorido mosaico referencial que não apenas sintetiza algumas das principais influências do músico norte-americano, como dialoga com parte expressiva de tudo aquilo que o artista vem produzindo desde o início da carreira. Variações instrumentais e poéticas que naturalmente convidam o ouvinte a se perder em um universo há muito explorado por Devendra Banhart.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.