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Crítica

Dinosaur Jr.

: "Sweep It Into Space"

Ano: 2021

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock, Rock Alternativo, Indie Rock

Para quem gosta de: Superchunk e Pavement

Ouça: I Ran Away e Garden

7.5
7.5

Dinosaur Jr.: “Sweep It Into Space”

Ano: 2021

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock, Rock Alternativo, Indie Rock

Para quem gosta de: Superchunk e Pavement

Ouça: I Ran Away e Garden

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2021

Quem, a essa altura do campeonato, ainda espera por uma mudança brusca na sonoridade do Dinosaur Jr., talvez tenha que partir em busca por outros artistas. Perto de completar quatro décadas de carreira, o grupo de Amherst, Massachusetts, continua a investir no mesmo rock rasgado e bons solos de guitarra que apresentou o trio formado por J Mascis, Lou Barlow e Murph no início dos anos 1980. Entretanto, longe de sufocar pelo excesso de conforto, a banda faz do recente Sweep It Into Space (2021, Jagjaguwar) um capítulo curioso dentro da própria discografia. Poucos mais de 40 minutos em que os músicos preservam parte da crueza explícita nos primeiros registros, porém, utilizando de uma abordagem essencialmente melódica como elemento de transformação.

Parte dessa parcial mudança de estrutura vem justamente da escolha da banda em colaborar com o cantor, compositor e multi-instrumentista Kurt Vile durante as gravações do disco. Discípulo confesso do grupo norte-americano, o músico não apenas assina a produção do álbum junto de Mascis, como assume parte dos instrumentos e vozes de apoio, conceito bastante evidente em I Ran Away, composição escolhida para anunciar a chegada do disco e uma síntese clara de tudo aquilo que o quarteto busca desenvolver até a derradeira You Wonder. Instantes de fúria que antecedem momentos de maior calmaria e versos deliciosamente acessíveis, como uma combinação natural de tudo aquilo que existe de melhor no som produzido pelo grupo desde o início da carreira.

E isso fica bem explícito logo nos primeiros minutos do trabalho, na introdutória I Ain’t. São pouco mais de quatro minutos em que cada componente do disco se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. Primeiro, são as guitarras de Mascis, sempre granuladas, efeito direto da maquiagem ruidosa dos pedais. Em seguida, o baixo suculento e destacado de Barlow, elemento que logo esbarra na bateria de Murph e funciona como um importante componente rítmico para a canção. Por fim, o guitarrista acrescenta um solo extra, com suas modulações e timbres característicos, cercando a letra que funciona como uma saudação aos próprios companheiros de banda. “Eu não sou bom sozinho“, canta em meio a coros de vozes que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte.

Essa mesma base criativa acaba orientando a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. Canções como Hide Another Round e To Be Waiting em que o trio de Massachusetts costura passado e presente de forma tão nostálgica quanto atual. Registros que utilizam de conflitos recentes, memórias e tormentos sentimentais vividos pelos próprios integrantes, porém, sempre atrelados à crueza dos arranjos e momentos de parcial explosão que resgatam a essência de clássicos como You’re Living All Over Me (1987), Bug (1988) e Green Mind (1991). Exemplo disso acontece em I Expect It Always, com sua escalada instrumental, momentos de breve silenciamento e distorções volumosas que mostram a capacidade do trio em atrair a atenção do público sem grandes dificuldades.

Entretanto, sobrevive nos momentos de maior distanciamento dessa estrutura a passagem para algumas das melhores composições do trabalho. É o caso de Garden, música que desacelera para valorizar os versos e doce romantismo proposto por Barlow. “Me dê sua mão, não há tempo para esperar / Onde fica o jardim? / E quando nos mudamos? / Amo como você se move comigo“, canta. Mais à frente, são os pianos e melodias cantaroláveis de Take It Back que tomam conta do disco, como uma parcial fuga do restante do álbum. Nada que se compare ao material entregue em Walking to You, registro que preserva a habitual sonoridade densa do Dinosaur Jr., porém, utiliza de uma abordagem completamente ruidosa e torta, lembrando as maquinações sujas de Thurston Moore.

Tamanha pluralidade de ideias garante ao ouvinte uma obra essencialmente equilibrada. Dividido entre canções que incorporam o que há de mais característico no som produzido pelo grupo norte-americano e momentos de maior liberdade criativa, Sweep It Into Space tinge com ineditismo o que parecia prestes a desmoronar após a entrega do antecessor Give a Glimpse of What Yer Not (2016). O próprio espaçamento entre um registro e outro, rompendo com o ritmo imposto pelo trio desde o regresso com Beyond (2007), parece ter garantido aos membros da banda a possibilidade de selecionar melhor o repertório do trabalho. Composições que, ao esbarrar na interferência direta e co-produção de Kurt Vile, evidenciam a formação de uma obra repleta de bons momentos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.