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Crítica

Disclosure

: "Energy"

Ano: 2020

Selo: Island

Gênero: Eletrônica, Garage, Future R&B

Para quem gosta de: AlunaGeorge, SBTRKT e Flume

Ouça: Birthday, Energy e Douha (Mali Mali)

7.3
7.3

Disclosure: “Energy”

Ano: 2020

Selo: Island

Gênero: Eletrônica, Garage, Future R&B

Para quem gosta de: AlunaGeorge, SBTRKT e Flume

Ouça: Birthday, Energy e Douha (Mali Mali)

/ Por: Cleber Facchi 04/09/2020

Quando se tem em mãos uma das obras mais importantes da música pop na última década, difícil não criar expectativa para qualquer novo registro de inéditas. E é exatamente isso que os irmãos Howard e Guy Lawrence tem enfrentado desde o lançamento do cultuado Settle (2013), primeiro álbum de estúdio do Disclosure e uma verdadeira coletânea de pequenos acertos. No repertório, preciosidades como Latch, Help Me Lose My Mind e When a Fire Starts to Burn. Canções que rapidamente transportaram a dupla para o topo das principais paradas de sucesso, serviram de inspiração para uma dezena de outras obras, porém, sufocaram parte da experiência e recepção em torno do material entregue no álbum seguinte, Caracal (2015).

Não por acaso, os irmãos Lawrence levaram cinco anos até retornar com um novo trabalho de inéditas, Energy (2020, Island). Nesse intervalo de tempo, a dupla britânica se aventurou na criação de diferentes composições autorais, como Where Angels Fear To Tread, Love Can Be So Hard, Where You Come From e o EP Moog For Love (2016); colaboraram em estúdio com nomes como Khalid, em Talk e Know Your Worth, e ainda assinaram a produção de diferentes registros, caso de Inflorescent (2019), do Friendly Fires. Pequenas experimentações e ensaios para o material seguramente apresentado no decorrer do presente disco.

De fato, do momento em que tem início, em Watch Your Step, bem-sucedido encontro com Kelis, passando por músicas como My High, com Aminé e Slowthai, até alcançar a derradeira Reverie, ao lado de Common, cada fragmento do álbum soa como uma criativa reciclagem de tudo aquilo que o Disclosure havia testado nos últimos anos. É como se os irmãos Lawrence transportassem para dentro de estúdio apenas o que há de melhor em diferentes criações avulsas e colaborações com outros artistas. Exemplo disso está em Douha (Mali Mali), música que amplia tudo aquilo que a dupla havia testado em Ultimatum, composição lançada há dois anos e início da parceria com a cantora e compositora malaia Fatoumata Diawara.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como a dupla regressa criativamente ao território desbravado em Settle, porém, partindo de um novo direcionamento estético. É o caso da faixa-título do álbum. Utilizando de um discurso motivacional do ministro Eric Thomas, também responsável pela icônica inserção em When A Fire Starts To Burn, o Disclosure amplia de forma significativa o uso das batidas e ritmos periféricos, mergulhando de cabeça em elementos típicos da percussão de uma escola de samba brasileira. A própria Birthday, ao lado de Kehlani e Syd, adapta de forma atualizada o mesmo R&B pulsante de You & Me e Confess to Me, como um olhar curioso para o passado.

Entretanto, é justamente quando a dupla se distancia dos antigos trabalhos que Energy realmente surpreende. Perfeita representação desse resultado acontece em Lavender, composição que adapta o estilo de produção de Channel Tres, porém, preservando a essência do Disclosure. A própria aceleração das batidas, na já citada My High, transporta o ouvinte um território completamente distinto, tingindo o álbum com novidade. Claro que isso não interfere na produção de músicas completamente deslocadas dentro do disco, como Ce N’est Pas, faixa que repete a fórmula de Douha (Mali Mali) e que poderia facilmente ser substituída por qualquer outra canção previamente apresentada pelo Disclosure, como Ecstasy.

Mesmo carente de faixas comercialmente acessíveis, como Magnets e Omen, grandes responsáveis por alavancar o disco anterior, Energy se revela ao público como uma obra muito mais coeso em relação ao trabalho que o antecede. Como o próprio título do álbum aponta, trata-se de uma obra marcada pelo reforço criativo e busca declarada da dupla britânica em se reinventar dentro de estúdio. Canções que preservam a essência detalhada em Settle, porém, sutilmente se permitem provar de novas possibilidades, dialogando com novos colaboradores e diferentes formas de explorar a relação com as pistas.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.