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Crítica

Labirinto

: "Divino Afflante Spiritu"

Ano: 2019

Selo: Dissenso / Pelagic

Gênero: Pós-Rock, Pós-Metal, Rock Instrumental

Para quem gosta de: EATNMPTD e ruído/mm

Ouça: Agnus Dei e Divino Afflante Spiritu

8.0
8.0

“Divino Afflante Spiritu”, Labirinto

Ano: 2019

Selo: Dissenso / Pelagic

Gênero: Pós-Rock, Pós-Metal, Rock Instrumental

Para quem gosta de: EATNMPTD e ruído/mm

Ouça: Agnus Dei e Divino Afflante Spiritu

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2019

Do ambiente infernal detalhado em Gehenna (2016) para a ascensão que embala o místico Divino Afflante Spiritu (2019, Dissenso / Pelagic). Três anos após o lançamento do segundo registro de estúdio, os integrantes da banda paulistana Labirinto estão de volta com um novo e provocativo álbum de inéditas. Dividido entre o sacro e a sátira religiosa, o trabalho de apenas sete faixas mostra o grupo em sua melhor fase, provando de novas possibilidades dentro de estúdio, porém, preservando a essência brutal que vem sendo detalhada desde a estreia com Anatema (2010).

Não por acaso, o grupo formado por Muriel Curi (bateria), Erick Cruxen (guitarra), Luis Naressi (guitarra, sintetizador e percussão), Hristos Eleutério (baixo), Francisco Bueno (guitarra, sintetizador e percussão) e Lucas Melo (percussão) fez de Agnus Dei a faixa de abertura do disco. Como o título em latim indica, “Cordeiro de Deus”, a canção não apenas expressa o pano de fundo religioso que cobre toda a superfície do disco, como ainda se abre para a inédita inserção dos vocais de Elaine Campos, veterana da cena punk que rapidamente transporta o som produzido pela banda para um novo território. Vozes guturais, batidas e camadas de guitarras que parecem trabalhadas de forma a sufocar o ouvinte, como se o paraíso proposto pela Labirinto fosse tão assustador quanto a atmosfera detalhada em Gehenna.

A mesma crueza e entrega na composição dos arranjos acaba se refletindo na faixa seguinte do disco, Penitência. São pouco menos de quatro minutos em que o grupo paulistano convida o ouvinte a se perder em um verdadeiro jogo de ideias e formas instrumentais, mudando de direção a todo instante. Aceleração e recolhimento, estímulo para o som torto também detalhado em Eleh ha-devarim, música guiada em essência pelas batidas de Curi, produtora do disco junto do sueco Magnus Lindberg (Cult of Luna).

Com a chegada de Demiurge, quarta composição do álbum, um instante de breve leveza que antecede o caos. São ambientações atmosféricas, sempre soturnas, que se espalham para a inserção de guitarras densas, como verdadeiros blocos de ruídos, quase intransponíveis. Mesmo a parede percussiva levantada por Curi assume nova formatação. São sobreposições tribais, quase ritualísticas, como se a essência religiosa detalhada pela banda fosse transportada para um terreno mundano, visceral. A própria faixa seguinte do disco, Vigília, com suas vozes fantasmagóricas e delirantes reforça com naturalidade esse direcionamento.

De essência versátil, Divino Afflante Spiritu faz de cada composição um objeto precioso, provando de novos temas e variações rítmicas sem necessariamente perder a consistência. É o caso de Asherdu, música que resgata parte da atmosfera detalhada pela banda durante o lançamento de Anatema, porém, mergulhando em um oceano de fórmulas sombrias. Uma intensa colisão de ideias que ora prova de ambientações contidas, ora se entrega ao uso claustrofóbico dos ruídos.

Interessante perceber na autointitulada faixa de encerramento do disco uma parcial fuga desse ambiente caótico que embala parte expressiva da obra. Extensa e lenta, a composição de quase oito minutos se espalha em meio a variações climáticas e versos declamados pelo convidado Glauco Felix. A própria inserção dos sintetizadores, sempre trabalhados em paralelo às guitarras, serve de reforço ao conceito melancólico da canção, como um respiro aliviado após o turbilhão instrumental e poético que ganha forma ao longo do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.