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Crítica

Dogleg

: "Melee"

Ano: 2020

Selo: Triple Crown Records

Gênero: Rock, Pós-Hardcore, Emo

Para quem gosta de: Oso Oso e Japandroids

Ouça: Prom Hell, Kawasaki Backflip e Fox

8.0
8.0

Dogleg: “Melee”

Ano: 2020

Selo: Triple Crown Records

Gênero: Rock, Pós-Hardcore, Emo

Para quem gosta de: Oso Oso e Japandroids

Ouça: Prom Hell, Kawasaki Backflip e Fox

/ Por: Cleber Facchi 19/03/2020

Melee (2020, Triple Crown Records) é um desses trabalhos que capturam a atenção do ouvinte logo nos primeiros minutos. E não poderia ser diferente. Com Kawasaki Backflip como faixa de abertura do primeiro álbum de estúdio do Dogleg, banda formada por Alex Stoitsiadis (guitarra e voz), Chase Macinski (baixo e voz), Parker Grissom (guitarras) e Jacob Hanlon (bateria), o ouvinte é prontamente transportado para dentro da obra. São camadas de guitarras, gritos e batidas rápidas, sempre intensas. Pouco mais de dois minutos em que o quarteto Detroit, Michigan, não apenas se apresenta ao público, como aponta a direção seguida até o último instante da obra.

A mesma crueza acaba se refletindo na faixa seguinte, Bueno. “Fique bêbado com seus amigos e não saia de casa / Eu não me importo se sou eu quem está sozinho / Vou esperar por aqui“, grita Stoitsiadis enquanto a linha de baixo de Macinski tenta respirar em meio a guitarras e batidas descontroladas. Um exercício de profunda entrega emocional que ultrapassa o limite dos versos e dialoga com a crueza dos arranjos e vozes duplicadas, proposta que naturalmente aponta para obras como Celebration Rock (2012), do Japandroids, ou mesmo o clássico Emergency & I (1999), do Dismemberment Plan.

Em Prom Hell, terceira faixa do disco, a mesma crueza que embala a sequência de abertura do álbum, porém, partindo de um novo direcionamento estético. Da bateria versátil de Hanlon ao encontro entre as guitarras de Grissom e Stoitsiadis, evidente é o esforço do quarteto em revelar ao público uma faixa marcada pelos detalhes. Instantes em que o grupo aporta no mesmo território nostálgico do Cloud Nothings, vide obras como Attack On Memory (2012) e Here and Nowhere Else (2014), porém, mantendo firme a própria identidade criativa. Um misto de passado e presente que acaba se refletindo na também detalhista Headfirst, música que dialoga com o rock melódico de contemporâneos como Oso Oso.

Nada que pareça prejudicar o direcionamento insano de músicas como Fox e a urgente Wartortle. Ponto de partida para a segunda metade do álbum, ambas as canções refletem o completo domínio do quarteto dentro de estúdio. Instantes de breve silenciamento que se completam pela curva ascendente das guitarras. São essas pequenas quebras que servem de base para uma das composições mais ruidosas do disco, Wrist. Feita para ser cantada a plenos pulmões, a faixa se ergue em meio a blocos de ruídos e distorções quase intransponíveis, esmero que se completa pela letra da canção. “Eu nunca tentei me machucar, só tentei jogar / Uma memória, um pensamento, para tudo o que você diz / Eu não ligo para quem ganhou“, canta Stoitsiadis.

É partindo dessa mesma base dramática que o grupo mergulha em Cannonball. Faixa que mais se distancia do restante da obra, a canção se revela ao público em meio a porções de ruídos e vozes entristecidas, sempre ancoradas no que há de mais doloroso nas experiências pessoais de Stoitsiadis. “Como é se sentir morto? / Como é se sentir morto?“, questiona enquanto coros de vozes, ruídos e a bateria destacada de Hanlon corre ao fundo da canção, cercando e sufocando o ouvinte. Instantes em que o grupo amplia tudo aquilo que havia testado em Prom Hell, proposta que faz lembrar do mesmo som catártico de nomes como Cymbals Eat Guitars.

Escolhida para o encerramento do disco, Ender evidencia o esforço do quarteto em avançar criativamente. São pouco mais de seis minutos em que o grupo desacelera em relação ao material apresentado nas urgentes Bueno e Fox, porém, mantém firme o mesmo direcionamento estético, proposta que se completa com a formação dos versos e profunda vulnerabilidade de Stoitsiadis. “É um longo caminho até o fundo / É um longo caminho agora / Isso vai ser o meu fim“, confessa. Instantes em que o quarteto não apenas preserva, como sutilmente amplia uma série de elementos típicos de obra do gênero, fazendo de Melee um bem-sucedido registro de apresentação.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.