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Crítica

Dream Wife

: "So When You Gonna…"

Ano: 2020

Selo: Lucky Number Music

Gênero: Pop Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Hinds e Bleached

Ouça: Hasta La Vista,Sports! e RH RN

7.5
7.5

Dream Wife: “So When You Gonna…”

Ano: 2020

Selo: Lucky Number Music

Gênero: Pop Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Hinds e Bleached

Ouça: Hasta La Vista,Sports! e RH RN

/ Por: Cleber Facchi 14/07/2020

Como pode uma banda confessar tamanha quantidade de referências e ainda assim preservar a própria identidade? Em So When You Gonna… (2020, Lucky Number Music), segundo e mais recente álbum de estúdio do trio britânico Dream Wife, cada composição do disco parece apontar para um ponto específico da história da música. Canções que atravessam o colorido neon da década de 1980 para mergulhar na cena nova-iorquina do começo dos anos 2000, proposta que amplia tudo aquilo que Alice Go, Rakel Mjöll e Bella Podpadec haviam testado no homônimo disco entregue há dois anos.

Perfeita representação desse direcionamento nostálgico ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, em Hasta La Vista. Da construção das guitarras e batidas que parecem replicar a estrutura de Heart of Glass, do Blondie, passando pela fluidez dos vocais, lembrando o trabalho de artistas como The Go-Go’s e X-Ray Spex, tudo soa como uma criativa reciclagem de ideias, conceito que se completa pela poesia agridoce da canção. “Quantas maneiras de dizer adeus / Para lavar todos os golpes da nossa vida passada / Quantas palavras até deixarmos ir“, reflete.

Mais à frente, em Validation, o mesmo olhar curioso para o passado, porém, partindo de um novo direcionamento estético. Entre versos declamados e arranjos que silenciam momentaneamente, o grupo parece emular as criações de Kim Gordon no Sonic Youth. São camadas de guitarras, batidas e ruídos que mudam de direção a todo instante, jogando com a interpretação do ouvinte. A própria RH RN, mesmo provando de uma sonoridade mais acessível, incorpora parte desse conceito referencial. São melodias cantaroláveis que evocam o trabalho de grupos como Heart, estrutura que se reflete em diversos momentos ao longo da obra.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, o trio britânico traz de volta parte da crueza impressa nas canções do primeiro álbum de estúdio. É o caso de Homesick. Inaugurada em meio a guitarras e batidas rápidas, a faixa mostra toda a intensidade da banda inglesa, lembrando a entrega de artistas como Yeah Yeah Yeahs e Cansei de Ser Sexy na segunda metade dos anos 2000. São pouco mais de três minutos em que Go, Mjöll e Podpadec sutilmente ampliam tudo aquilo que faixas como Somebody e Fire haviam indicado no disco anterior, como um resgate momentâneo do próprio passado.

Entretanto, é justamente quando alcança um ponto de equilíbrio entre esse lado mais acessível e o som produzido há dois anos que o disco realmente cresce. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade na introdutória Sports. Ao mesmo tempo em que reforça a capacidade da banda em dialogar com uma parcela maior do público, guitarras e batidas rápidas definem a potência do trio dentro de estúdio. A própria faixa-título do disco, com suas vozes berradas e arranjos frenéticos, parece costurar três ou mais décadas de referências de forma sempre particular, efeito direto da poesia intimista que ganha forma ao longo do álbum.

Produzido e gravado inteiramente com uma equipe não masculina, caso da co-produtora Marta Salogni (Björk, Holly Herndon, FKA Twigs) e as engenheiras de som Grace Banks (David Wrench, Marika Hackman) e Heba Kadry (Princess Nokia, Alex G, Beach House), So When You Gonna… mostra o completo domínio do grupo britânico dentro de estúdio. São composições capazes de divertir o ouvinte durante o tempo de execução da obra, porém, sempre tocando em temas sensíveis, como relacionamentos abusivos, solidão e aborto, conceito anteriormente testado no primeiro álbum da banda, porém, tratado de forma bem resolvida dentro do presente disco.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.