Image
Crítica

dvsn

: "A Muse in Her Feelings"

Ano: 2020

Selo: OVO Sound / Warner Bros.

Gênero: Hip-Hop, R&B, Rap

Para quem gosta de: The Weeknd e Drake

Ouça: Miss Me? e No Crying

7.0
7.0

dvsn: “A Muse in Her Feelings”

Ano: 2020

Selo: OVO Sound / Warner Bros.

Gênero: Hip-Hop, R&B, Rap

Para quem gosta de: The Weeknd e Drake

Ouça: Miss Me? e No Crying

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2020

Durante o processo de divulgação do ainda recente After Hours (2020), Abel Tesfaye disse em entrevista à Variety que House of Balloons (2011), primeiro registro como The Weeknd, “literalmente mudou o som da música pop“. Por mais exagerada que passa parecer a colocação do artista canadense, não há como negar que diferentes traços da obra entregue há nove anos continua a reverberar em diferentes projetos do gênero, principalmente quando voltamos os ouvidos para o material produzido pelos conterrâneos Daniel Daley e Paul Jefferies (Nineteen85), do dvsn, conceito reforçado com a chegada de A Muse in Her Feelings (2020, OVO Sound / Warner Bros).

Terceiro e mais recente álbum de estúdio da dupla de Toronto, o sucessor de Morning After (2017) não apenas amplia tudo aquilo que Tesfaye tem produzido desde a estreia com House of Balloons, como resgata uma série de elementos originalmente testados por Daley e Jefferies no primeiro registro de inéditas da carreira, o melancólico Sept. 5th (2016). Canções que passeiam em meio a desilusões amorosas, conflitos intimistas e instantes de profunda entrega sentimental, conceito que se reflete com naturalidade até a música de encerramento do disco …Again.

Não por acaso, a dupla canadense fez de Miss Me?, quinta faixa do disco, uma das primeiras canções do álbum a serem apresentadas ao público. Trata-se de uma clara síntese conceitual de tudo aquilo que o dvsn revela em A Muse in Her Feelings. Um misto de trap e R&B, estrutura que se reflete na atmosfera labiríntica da canção, mas que ganha ainda mais destaque no romantismo doloroso que escapa dos versos. “Assim que eu te tirar do meu sistema, garota, recairei / Suando no frio, não consigo relaxar / Diga: você sente a minha falta / Como eu sinto a sua?“, questiona em meio a batidas minimalistas e vozes tratadas como um precioso instrumento.

São canções que passeiam pela produção romântica da última década, vide a forte similaridade com o trabalho de The Weeknd, porém, em nenhum momento deixam de apontar para o R&B dos anos 1990 e 2000, como um diálogo particular com a obra de veteranos como Usher e Nelly. Um misto de canto e rima, dor e entrega sentimental, conceito reforçado no pop futurístico da colaborativa No Crying, encontro com o rapper Future que chama a atenção pelo uso destacado do auto-tune, batidas eletrônicas e vozes sampleadas. Um misto de continuação e criativa desconstrução do repertório entregue durante o lançamento de Morning After.

De fato, difícil não pensar nas canções de A Muse in Her Feelings como uma reinterpretação conceitual do material entregue no disco anterior. Do uso destacado das batidas eletrônicas ao tratamento dado aos sintetizadores e vozes, tudo soa como um remix do repertório apresentado pelo dvsn há três anos. Exemplo disso está na segunda metade do álbum, quando músicas como Dangerous City, colaboração com Ty Dolla $ign e Buju Banton, Outlandish e Keep It Going conduzem o ouvinte em direção às pistas. Mesmo faixas como a delicada Between Us, encontro com Snoh Aalegra, parece reforçar esse novo direcionamento estético.

Ponto de partida para uma nova fase na carreira do dvsn, A Muse in Her Feelings não apenas reflete a busca dos dois artistas por novas possibilidades e ritmos, como se abre para a chegada de diferentes colaboradores. São personagens de destaque do novo R&B, como a cantora Jessie Reyez, em Courtside, e Summer Walker, na ótima Flawless (Do It Well Pt. 3), além, claro, de nomes influentes como Robin Hannibal (Rhye, Quadron), Popcaan e PARTYNEXTDOOR. Compositores, instrumentistas e vozes que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra, indicativo do completo domínio criativo que orienta as canções da dupla canadense.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.