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Crítica

Elza Soares

: "A Mulher do Fim do Mundo"

Ano: 2020

Selo: Circus

Gênero: Rock, MPB, Samba

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Jards Macalé

Ouça: A Mulher do Fim do Mundo e Luz Vermelha

9.5
9.5

Elza Soares: “A Mulher do Fim do Mundo”

Ano: 2020

Selo: Circus

Gênero: Rock, MPB, Samba

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Jards Macalé

Ouça: A Mulher do Fim do Mundo e Luz Vermelha

/ Por: Cleber Facchi 13/04/2020

Você não precisa ir além da sequência de abertura para entender a força do trabalho de Elza Soares em A Mulher do Fim do Mundo (2015). “Me deixem cantar até o fim“, implora, enquanto a instrumentação catártica encolhe e cresce de forma desmedida, sempre aos comandos da voz fragilizada da artista. Primeiro registro de inéditas em mais de cinco décadas de carreira, o álbum que conta com direção artística de Romulo Fróes, também compositor de parte dos versos, e produção do experiente Guilherme Kastrup, transporta para o samba torto paulistano parte da essência da artista carioca apresentada por Ary Barroso no início dos anos 1950. São ambientações ruidosas, batidas e melodias sujas que se completam pela presença de nomes como Rodrigo Campos (cavaco, guitarra), Kiko Dinucci (guitarra, violão), Marcelo Cabral (baixo, sintetizador) e alguns dos nomes mais significativos da cidade de São Paulo. Um “punk-samba”, como definiu Celso Sim, colaborador na descritiva Benedita.

A mesma crueza que embala a composição dos arranjos se reflete na formação dos versos. Da abertura do disco, em Coração do Mar, um poema de Oswald de Andrade (1890-1954) musicado por José Miguel Wisnik, passando pela entrega de músicas como Maria da Vila Matilde, de Douglas Germano, e Luz Vermelha, de Dinucci e Clima, cada fragmento do álbum encontra em personagens marginalizados, medos e conflitos urbanos o estímulo para capturar a atenção do ouvinte. São canções que se entrelaçam de forma sempre inexata, fazendo da voz rouca de Soares um importante elemento de aproximação entre as faixas, conceito que se reflete até a derradeira Comigo. Um turbulento exercício criativo que não apenas garantiu à cantora um lugar de destaque em diferentes publicações internacionais, vide textos elogiosos que circularam pelo The New York Times e Pitchfork, como serviu para apresentar o trabalho da cantora a toda uma nova geração de ouvintes.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.