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Crítica

Florist

: "Emily Alone"

Ano: 2019

Selo: Double Double Whammy

Gênero: Indie, Folk, Indie Folk

Para quem gosta de: Girlpool e Big Thief

Ouça: I Also Have Eyes, As Alone e Celebration

8.3
8.3

“Emily Alone”, Florist

Ano: 2019

Selo: Double Double Whammy

Gênero: Indie, Folk, Indie Folk

Para quem gosta de: Girlpool e Big Thief

Ouça: I Also Have Eyes, As Alone e Celebration

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2019

Pode uma obra parecer tão diminuta e ainda imensa na forma como cada elemento é sutilmente revelado ao público? A resposta para essa pergunta sussurra por entre as brechas e paisagens acústicas que embalam o terceiro e mais recente álbum de estúdio de Emily Sprague como Florist, Emily Alone (2019, Double Double Whammy). Sequência aos delicados The Birds Outside Sang (2016) e If Blue Could Be Happiness (2017), o novo disco preserva a essência melódica dos antigos trabalhos da cantora e compositora norte-americana, porém, encanta pela forma como a multi-instrumentista se livra de possíveis excessos, ressaltando a força dos sentimentos.

Como o próprio título do trabalho aponta, esse é o primeiro registro de inéditas da artista sem a presença dos antigos parceiros de banda, Rick Spataro, Jonnie Baker e Felix Walworth. Não por acaso, para a composição do trabalho, Sprague decidiu se isolar em sua casa, na Califórnia, rompendo com a atmosfera urbana de Nova Iorque, onde os dois discos anteriores foram concebidos e gravados. O resultado dessa propositada mudança está na formação de uma obra sensível, intimista e feita para ser desvendada aos poucos.

Eu poderia ter palavras ou eu poderia ter a solidão / Silenciosa, mas caindo, qual é o meu lugar neste mundo?“, questiona de forma melancólica logo nos primeiros minutos do disco, em As Alone, composição que sintetiza parte das experiências e sentimentos trabalhados pela artista até o último instante da obra. “Das palavras e dos sons que eu canto para mim / Emily, apenas saiba que você não está tão sozinha / Como você se sente no escuro“, completa enquanto o movimento tímido dos violões corre ao fundo da canção, cercando e confortando o ouvinte.

Partindo desse conceito, Sprague segue a trilha de Adrianne Lenker, em Abyskiss (2018), ou mesmo do próprio Big Thief, no ainda recente U.F.O.F (2019), fazendo desse propositado reducionismo a passagem para um universo conduzido pelos detalhes e versos sempre tocantes, como fragmentos da alma e experiências enfrentadas pela própria artista. Exemplo disso está em Celebration, música que parte de versos descritivos e detalhistas para colorir um doloroso quadro sentimental. Instantes em que a cantora utiliza do próprio isolamento em uma casa dominada por memórias afetivas para dialogar com o público.

De fato, Emily Alone é um disco inteiro sobre isso: identificação. São versos acinzentados que refletem as incertezas de qualquer jovem adulto. “Como eu entrei neste lugar? / Minha vida é apenas uma combinação de coisas / Que eu não tenho controle sobre … Está frio e estou atrasada / Será que eu existo?“, reflete em I Also Have Eyes, dolorosa criação sobre a passagem do tempo, o medo e o inevitável isolamento emocional de qualquer indivíduo, conceito que acaba se refletindo em outros momentos no decorrer da obra, Time Is a Dark Feeling, Still e Rain Song.

Mesmo dentro desse cenário consumido pela dor, interessante notar como Sprague trabalha as próprias inquietações de acolhedora, evitando a composição de uma obra inacessível, difícil de ser absorvida pelo ouvinte. São fragmentos esperançosos que acabam servindo de sustento para a composição do disco. Não por acaso, a cantora escolheu a sorridente Today I’ll Have You Around como faixa de encerramento do álbum. “Há algo que estou sentindo … Mas minha mente é minha mente / E hoje eu vou ter você por perto“, canta. São versos ensolarados, como um respiro aliviado passada a tempestade emocional que cobre a superfície do registro.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.