Image
Crítica

Empress Of

: "I'm Your Empress Of"

Ano: 2020

Selo: Terrible / XL

Gênero: Art Pop, Dance, Electropop

Para quem gosta de: Tei Shi, Shura e Robyn

Ouça: Love is a Drug, Void e U Give It Up

7.8
7.8

Empress Of: “I’m Your Empress Of”

Ano: 2020

Selo: Terrible / XL

Gênero: Art Pop, Dance, Electropop

Para quem gosta de: Tei Shi, Shura e Robyn

Ouça: Love is a Drug, Void e U Give It Up

/ Por: Cleber Facchi 14/04/2020

Não é de hoje que Lorelay Rodriguez tem flertado com as pistas. Queridinha de alguns dos nomes mais interessantes da produção eletrônica, como a dupla DJDS, com quem colaborou em Why Don’t You Come On, e o espanhol Pional, parceiro em The Way That You Like, a cantora e compositora norte-americana utiliza justamente dessa base referencial como estímulo para as canções que embalam o recente I’m Your Empress Of (2020, Terrible / XL). Composições que preservam a identidade conceitual detalhada desde a estreia com Me (2015), porém, se permitem avançar criativamente, proposta que se reflete até a música de encerramento do trabalho, Awful.

Como indicado durante o lançamento de Give Me Another Chance, primeira composição do disco a ser apresentada ao público, Rodriguez e seus parceiros de estúdio, os produtores BJ Burton, Jim-E Stack e Mikey Freedom Hart, encontram nas pistas dos anos 1980 e 1990 a base para grande parte das canções. Da construção das batidas, visivelmente inspirada pela obra de veteranos como Cassius, passando pelo uso complementar das vozes, íntimas da recente fase de Robyn, em Honey (2018), tudo soa como um olhar curioso para o passado.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Love is a Drug, quarta faixa do disco. Enquanto a combinação entre sintetizadores e batidas parece emular o clássico Sweet Dreams (Are Made Of This), do Eurythmics, liricamente a canção avança em meio a versos marcados pelos delírios e confissões sentimentais de Rodriguez. “Eu sei que o amor é uma droga, eu sei que o dinheiro é uma droga / Eu sei que sexo pode ser uma droga, mas eu só quero ser tocada“, canta enquanto vozes carregadas de efeitos se transformam em um instrumento versátil nas mãos de BJ Burton, parceiro da artista durante toda a execução do trabalho.

O mesmo direcionamento temático acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. É o caso de What’s The Point, música que preserva a essência melódica do antecessor Us (2018), porém, avança em meio a ambientações enevoadas e batidas eletrônicas, como um curioso remix de tudo aquilo que Rodriguez tem produzido desde os primeiros registros autorais, vide o EP Systems (2013). A própria Woman is a Word, uma das principais composições já produzidas pela cantora estadunidense, reaparece em outros momentos ao longo do álbum, estrutura que faz de I’m Your Empress Of um delicado resgate conceitual da própria artista.

Entretanto, para além do simples exercício estético, sobrevive nas canções de I’m Your Empress Of a base para um dos registros mais sensíveis já produzidos pela cantora. Da presença da própria mãe, logo na abertura do disco, passando pela composição dos versos, poucas vezes antes Rodriguez pareceu tão íntima do ouvinte, efeito direto do forte aspecto confessional que embala a formação das letras. “Me sinto vazia de todos os sentimentos que tive / Você pegou todos eles e me deixou com uma sacola vazia / Pensando em você“, confessa em Void, canção que reflete a capacidade da cantora em transformar as próprias experiências na base para algumas de suas principais criações, vide faixas como as já conhecidas Standard e When I’m with Him.

Doloroso e libertador na mesma proporção, I’m Your Empress Of é, como tudo aquilo que Rodriguez tem produzido nos últimos anos, uma obra marcada pela força dos sentimentos e profunda entrega emocional de sua realizadora. Do momento em que tem início, em Bit of Rain, até alcançar a já citada faixa de encerramento, difícil não se deixar guiar pelo lirismo intimista que embala a formação de músicas como Void, U Give It Up e Give Me Another Chance. Canções que refletem o forte aspecto melancólico dos versos, mas que em nenhum momento se distanciam das pistas, convidando o ouvinte a dançar.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.