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Crítica

EOB

: "Earth"

Ano: 2020

Selo: Capitol

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Thom Yorke, Blur e Ultraísta

Ouça: Brasil e Shangri-La

7.0
7.0

EOB: “Earth”

Ano: 2020

Selo: Capitol

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Thom Yorke, Blur e Ultraísta

Ouça: Brasil e Shangri-La

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2020

Quando se é integrante de uma das bandas mais influentes do planeta, como o Radiohead, difícil não criar expectativa para qualquer registro produzido, mesmo que de forma paralela, por seus integrantes. Entretanto, quem for com sede ao pote durante as audições de Earth (2020, Capitol), primeiro álbum em carreira solo do guitarrista Ed O’Brien, talvez deixe passar uma obra que exige tempo até se formar na cabeça do ouvinte. Longe de possíveis ambições, o músico britânico segue uma medida própria de tempo, sem pressa, fazendo de cada composição do disco um fragmento particular das vivências e histórias acumuladas ao longo dos anos.

Voltando / Não regressarei à velha casa / Vamos queimá-la até o chão … Eu realmente não sabia que estava com tanto frio / Até encontrar meu Shangri-La“, canta O’Brien, logo nos primeiros minutos do disco, na introdutória Shangri-La. São versos guiados por paisagens metafóricas, memórias de um passado ainda recente e instantes de doce libertação pessoal. Um exercício delicado que utiliza da relação do músico com a própria família, elemento criativo que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como se tudo girasse em torno das experiências pessoais do guitarrista.

Exemplo disso está na atmosférica Brasil, segunda faixa do disco. São pouco mais de oito minutos em que o músico britânico canta sobre o período em que mudou para a região de Ubatuba, no litoral de São Paulo, com toda a família. “Dias do Éden / Noites douradas / Que passo com você / Eu te amo / E eu sinto o amor caindo / Sinta novamente o amor“, sussurra. Frações poéticas que se espalham em uma cama de melodias acústicas, porém, encontram no uso de ambientações eletrônicas a passagem para o lado mais criativo da obra. Instantes em que O’Brien preserva e perverte parte do som produzido pelo Radiohead em mais de três décadas de carreira.

É partindo justamente dessa dualidade, flutuando em meio a reverberações eletroacústicas, que O’Brien orienta a experiência do ouvinte durante parte expressiva da obra. São canções como a também crescente Olympik, com quase nove minutos de duração, em que o guitarrista costura passado e presente de forma deliciosamente nostálgica. Guitarras carregadas de efeitos, batidas eletrônicas e vozes submersas, estrutura que faz lembrar do som produzido por nomes como Stereolab e Portishead, esse último, reforçado pela presença do guitarrista Adrian Utley, parceiro do músico em algumas das canções do disco.

De fato, mais do que um registro pessoal de O’Brien, aqui apresentado sob o título de EOB, Earth nasce como um ponto de encontro para diferentes colaboradores e instrumentistas próximos ao músico inglês. São nomes como o parceiro de banda no Radiohead, o baixista Colin Greenwood, em Brasil; o baterista do Wilco, Glenn Kotche, em Mass; o jazzista Omar Hakim, na já citada Olympik, além, claro, da cantora e compositora inglesa Laura Marling, com quem o guitarrista divide parte dos versos na derradeira Cloak of the Night, canção que parece saída do último álbum de estúdio da musicista, Song For Our Daughter (2020).

Feito para ser revisitado, conceito proposto pelo artista desde a entrega da primeira composição em carreira solo, a também delicada Santa Teresa, Earth nasce como a passagem para um território particular de O’Brien. Canções que vão do minimalismo à criativa colagem de ideias de forma sempre sensível, estrutura que acaba se repetindo no bloco central do disco, vide o material apresentado nas acústicas Mass e Long Time Coming, mas que em nenhum momento deixa de impressionar o ouvinte, indicativo do completo domínio do músico em relação à própria obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.