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Crítica

Vampire Weekend

: "Father of The Bride"

Ano: 2019

Selo: Spring Snow / Columbia

Gênero: Pop Rock, Indie Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Dirty Projectors e HAIM

Ouça: This Life e Unbearably White

8.5
8.5

“Father of the Bride”, Vampire Weekend

Ano: 2019

Selo: Spring Snow / Columbia

Gênero: Pop Rock, Indie Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Dirty Projectors e HAIM

Ouça: This Life e Unbearably White

/ Por: Cleber Facchi 08/05/2019

Relacionamentos conturbados, o peso da passagem do tempo, religiosidade e pequenas cenas do cotidiano de Nova York. Em Father of the Bride (2019, Spring Snow / Columbia), primeiro álbum de estúdio do Vampire Weekend desde o maduro Modern Vampires of The City (2013), cada verso lançado pelo vocalista Ezra Koenig sintetiza o desejo da banda, agora desfalcada do multi-instrumentista e produtor Rostam Batmanglij, em avançar criativamente, porém, preservando a própria identidade. Um misto de reposicionamento estético e busca por novas abordagens, temas e conceitos, transformação que dialoga diretamente com a presente fase de seus realizadores, agora casados, constituindo famílias e assistindo ao nascimento dos primeiros filhos.

Eu fiz o meu melhor e todo o resto está escondido pelas nuvens / Eu não posso te carregar para sempre, mas eu posso te abraçar agora“, canta logo nos primeiros minutos do disco, em Hold You Now, uma das diversas colaborações com Danielle Haim e uma descritiva cena de casamento que passeia pela noiva à beira do altar, seu amante e as promessas de amores passageiros que surgem e desaparecem ao longo da vida. Um lento desvendar de ideias que se completa pelo coro de vozes extraído de God Yu Tekem Laef Blong Mi, música originalmente composta por Hans Zimmer para a trilha sonora do filme Além da Linha Vermelha (1998), de Terrence Malick.

É partindo justamente dessa delicada sobreposição dos elementos que Koenig e seu principal parceiro de produção, o multi-instrumentista Ariel Rechtshaid (Sky Ferreira, Carly Rae Jepsen), detalham toda a estrutura que serve de sustento ao registro. São músicas concebidas em uma medida própria de tempo, costurando samples, referências vindas de outros campos da música e até mesmo citações ao trabalho da própria banda. Exemplo disso está em Harmony Hall, música que passeia em meio a citações sobre o governo Trump, conflitos religiosos, referências históricas e versos originalmente lançados em Finger Back, do álbum anterior – “Eu não quero viver assim, mas eu não quero morrer“.

Em This Life, colaboração com Mark Ronson (Lady Gaga, Amy Winehouse) e Dave Macklovitch (Chromeo), melodias empoeiradas que apontam para a obra de Paul Simon e ainda utilizam de versos originalmente compostos pelo rapper iLoveMakonnen, em Tonight – “Você está me traindo, me traindo / Eu tenho traído, traído você“. No minimalismo sorumbático de Unbearably White, citações ao clássico A Insustentável Leveza do Ser (1984), de Milan Kundera, e versos que refletem a dificuldade de Koenig em se adaptar após o lançamento de Modern Vampires of The City e consequente saída de Batmanglij, seu principal parceiro de composição. Mais a frente, em 2021, uma delicada reflexão sobre a passagem do tempo que se completa com as vozes da convidada Jenny Lewis e fragmentos extraídos da obra do multi-instrumentista japonês Haruomi Hosono (Yellow Magic Orchestra).

Tamanho cuidado na composição dos elementos naturalmente força uma audição atenta e minuciosa por parte do ouvinte. Salve excessões, como o encontro com Steve Lacy (The Internet), em Sunflower, além, claro, das iniciais Harmony Hall, Bambina e This Life, Father of the Bride segue uma estrutura menos imediatista em relação aos principais trabalhos da banda. A própria duração do trabalho, com 18 composições e poucos menos de 60 minutos de duração, funciona como um precioso indicativo para o conceito climático da obra, revelando cenas e pequenas narrativas conceituais que parecem borbulhar pelas brechas do álbum.

Do título inspirado na comédia homônima protagonizada por Steve Martin nos anos 1990, passando pela escolha dos produtores, como BloodPop (Grimes, Madonna) e DJ Dahi (Kendrick Lamar, Drake), ao uso de temas instrumentais recortados de outros trabalhos, cada elemento do disco parece encaixado de forma cuidadosa, servindo de passagem para um universo próprio do Vampire Weekend. São versos melancólicos que se projetam de maneira contrastada ao uso dos arranjos e melodias ensolaradas, estrutura que reflete com naturalidade a presente fase na carreira e vida pessoal de Ezra Koenig, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com os instantes de maior inquietação de qualquer ouvinte.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.