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Crítica

FKA Twigs

: "Magdalene"

Ano: 2019

Selo: Young Turks

Gênero: R&B, Eletrônica, Art Pop

Para quem gosta de: Kelela, Björk e Arca

Ouça: Cellophane, Daybed e Holy Terrain

9.0
9.0

FKA Twigs: “Magdalene”

Ano: 2019

Selo: Young Turks

Gênero: R&B, Eletrônica, Art Pop

Para quem gosta de: Kelela, Björk e Arca

Ouça: Cellophane, Daybed e Holy Terrain

/ Por: Cleber Facchi 15/11/2019

Em Magdalene (2019, Young Turks), segundo e mais recente álbum de estúdio de FKA Twigs, a cantora e compositora inglesa não apenas utiliza das próprias experiências sentimentais como estímulo para a composição dos versos, como mergulha nas histórias e vivências de diferentes personagens femininas. Canções guiadas pela forte dualidade dos temas, alternando entre instantes de doce romantismo e o mais profundo sofrimento. Frações poéticas que partem da imagem mítica de Maria Madalena, conceito reforçado logo no título da obra, porém, utilizam desse alicerce religioso/literário como estímulo natural para a entrega de músicas marcadas por inquietações feministas, conceito que tem sido aprimorado pela artista desde o antecessor MELL155X (2015).

Como mulher, sua história costuma estar ligada à narrativa de um homem. Não importa o que você faça ou quão bom seja o seu trabalho, às vezes é como se você tivesse que se apegar a um homem para ser validada“, respondeu em entrevista à i-D. “Então comecei a ler sobre Maria Madalena e como ela era incrível; como ela provavelmente seria a melhor amiga de Jesus, sua confidente. Mas, você sabe, a história dela é escrita fora da Bíblia e ela era ‘uma prostituta’. Encontrei muito poder na história de Madalena; muita dignidade, muita graça, muita inspiração“, completa. É partindo justamente dessa base temática que a artista inglesa orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra. Canções marcadas pelo aspecto visceral dos sentimentos e profunda sobriedade na composição dos versos, como um avanço claro em relação ao material entregue no antecessor LP1 (2014).

Não por acaso, FKA Twigs fez de Cellophane a primeira faixa do disco a ser apresentada ao público. “E eu só quero sentir que você está aí / E eu não quero ter que compartilhar o nosso amor / Eu tento, mas eu fico sobrecarregada / Quando você for embora eu não tenho ninguém com quem contar … Por que você não faz isso por mim? / Quando tudo que faço é para você?“, questiona enquanto pianos crescentes, ruídos e vozes tratadas como percussão se espalham ao fundo da canção, sem pressa. Um verdadeiro turbilhão sentimental e poético, estrutura que encolhe e cresce durante toda a execução da obra, como um reforço à angústia que consome os versos lançados pela artista.

Exemplo disso está na também melancólica Sad Day. “Eu posso imaginar um mundo quando meus braços estão abraçados ao seu redor / Eu minto nua e pura / Com intenções de purificá-lo e levá-lo … Então está na hora / E é um dia triste, com certeza“, canta em um misto de dor e profunda confissão romântica, estrutura que se repete mais à frente, na delicada Daybed. “Silenciosas são as cordas do meu coração / Gelado é o calor do meu corpo / Solitária é minha esperança / O vazio é minha coisa mais doce“, desaba em um evidente exercício de vulnerabilidade, fazendo da própria depressão um importante componente lírico. Canções sempre dotadas de uma linguagem universal, como se a cantora dialogasse com o que há de mais doloroso nas experiências sentimentais de qualquer indivíduo.

Enquanto a base lírica do trabalho parece ancorada em um oceano de melancolia, musicalmente, Magdalene reflete a completa versatilidade de FKA Twigs dentro de estúdio. Do trap futurístico que toma conta de Holy Terrain, bem sucedido encontro com o rapper Future, passando pelo pop atmosférico de Home With You e o R&B de Fallen Alien, cada composição do disco parece apontar para uma direção completamente distinta, estrutura que torna a experiência do ouvinte em revisitar o trabalho sempre gratificante. Um delicado conjunto de ideias que preserva a essência detalhada durante o lançamento de LP1, vide Sad Day, porém, sutilmente se permite provar de novas possibilidades e ritmos.

Parte dessa mudança de direção vem da escolha da própria artista em estreitar a relação com diferentes produtores ao longo da obra. São nomes Skrillex, Jack Antonoff, Benny Blanco, Hudson Mohawke, Oneohtrix Point Never e, principalmente, Nicolas Jaar, com quem divide parte expressiva dos versos e a fina base instrumental que serve de sustento ao registro. Uma criativa colisão de ideias e referências conceituais que passeia por diferentes campos da música, riqueza que se reflete mesmo na imagem de capa e projeto gráfico do disco, trabalho que conta com assinatura do londrino Matthew Stone. Instantes que refletem o completo refinamento estético da artista, como se FKA Twigs soubesse exatamente que direção seguir dentro de estúdio.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.