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Crítica

Flock of Dimes

: "Head of Roses"

Ano: 2021

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Wye Oak e Bon Iver

Ouça: Price of Blue, Two e One More Hour

7.8
7.8

Flock of Dimes: “Head of Roses”

Ano: 2021

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Wye Oak e Bon Iver

Ouça: Price of Blue, Two e One More Hour

/ Por: Cleber Facchi 21/04/2021

Há dois anos, durante o lançamento de i, i (2019), quarto álbum de estúdio do Bon Iver, Justin Vernon dedicou um vídeo inteiro do material de divulgação da obra para exaltar a importância de Jenn Wasner no processo de criação do trabalho. “Ela simplesmente trouxe uma peça nova ao nosso quebra-cabeça“, reforçou o músico estadunidense. Dona de uma extensa produção como integrante do Wye Oak, banda comandada em parceria com Andy Stack, Wasner passou grande parte da última década testando os próprios limites dentro de estúdio, tratamento que se reflete não apenas no diálogo com diferentes colaboradores, como Jon Ehrens, no Dungeonesse, mas principalmente no particular Flock of Dimes, projeto em que costuma refinar parte das próprias experimentações.

E é exatamente isso que acontece em Head of Roses (2021, Sub Pop). Segundo e mais recente álbum de Wasner em carreira solo, o registro de dez faixas nasce como um acumulo de tudo aquilo que a cantora e compositora norte-americana tem produzido nos últimos anos. Canções que utilizam de boas guitarras e melodias que evocam a produção dos anos 1970, porém, partindo de uma linguagem essencialmente atualizada, estrutura que se reflete não apenas na inserção de temas eletrônicos, mas no tratamento dado às vozes e sobreposições estéticas que apontam para diferentes campos da música. Um permanente desvendar de ideias e experiências sentimentais, como um avanço claro em relação ao material entregue pela artista no introdutório If You See Me, Say Yes (2016).

Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do disco, na crescente Price of Blue. São pouco mais de seis minutos em que a musicista utiliza da fragmentação dos arranjos, melodias carregadas de efeitos e guitarras para apresentar todas as regras que serão exploradas até o encerramento da obra. “E quando você pensar em beleza, estarei lá / Sozinha, atrás dos olhos da sua encarada elétrica / Eu me tornei um reflexo em seu espelho / Sozinha com você, o preço do tristeza“, desaba em meio a distorções e vozes tratadas como um instrumento sujo, proposta que faz lembrar do som produzido em Two Hands (2019), último álbum de estúdio do Big Thief, porém, partindo de uma abordagem ainda íntima do som que tem sido explorado por Wasner desde os primeiros registros autorais.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na canção seguinte, Two. Do uso calculado dos sintetizadores, por vezes íntimos do som produzido pelo Wye Oak, passando pela força das guitarras e sutil manipulação das vozes, tudo soa como um acumulo das experiências e temas instrumentais que há tempos embalam as criações da artista. A diferença está na forma como Wasner alcança um ponto de equilíbrio entre o que há de mais acessível e torto dentro do próprio trabalho. Instantes em que a artista aponta para as vocalizações etéreas de Cocteau Twins, traz de volta a sonoridade radiante explorada em If You See Me, Say Yes e estabelece na fluidez das batidas um sentimento de euforia poucas vezes antes explorado pela multi-instrumentista nas canções do Flock of Dimes.

Mesmo quando investe em uma sonoridade reducionista, Wasner mantém firme o esmero e completo refinamento que define a formação do trabalho. Nesse sentido, a cantora divide o disco em dois blocos específicos de canções. De um lado, composições como Lightning, música que ganha forma em uma medida própria de tempo, revelando movimentos contidos de cordas e vozes atmosféricas, quase celestiais. No outro, registros como Hard Way, faixa que estabelece no uso fragmentado dos sintetizadores, melodias e vozes um importante ponto de ruptura criativa dentro do álbum. É como se a artista apresentasse a própria visão do som explorado nos últimos discos do Bon Iver, direcionamento que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como na labiríntica One More Hour.

Tamanho esmero no processo de composição do trabalho faz de Head of Roses o registro mais significativo de Wasner nos últimos anos. São incontáveis camadas instrumentais, ruídos orquestrados e vozes que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra, minúcia que se reflete mesmo nos momentos menos expressivos do disco. A própria poesia do registro passa por um importante processo de transformação quando próxima do material entregue em If You See Me, Say Yes. São canções marcadas por conflitos existencialistas, relacionamentos conturbados, dor e isolamento, vulnerabilidade que embala a experiência do ouvinte tão logo o álbum tem início, na introdutória 2 Heads, mas que acaba se refletindo de maneira sensível até o último segundo do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.