Image
Crítica

Flora Matos

: "Do Lado de Flora"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Tássia Reis e Drik Barbosa

Ouça: Medito e Me Acalmo e Valeu

7.6
7.6

Flora Matos: “Do Lado de Flora”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Tássia Reis e Drik Barbosa

Ouça: Medito e Me Acalmo e Valeu

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2021

Composto, produzido e gravado por Flora Matos, Do Lado de Flora (2020, Independente) é um registro que orbita um universo de emoções e experiências bastante particulares, mas que a todo momento estabelece pequenos diálogos com o ouvinte. São confissões românticas, desilusões amorosas e conquistas pessoais, proposta que naturalmente aponta para o primeiro álbum da cantora/rapper brasiliense em carreia solo, o delicado Eletrocardiograma (2017), porém, partindo de uma abordagem criativa essencialmente ampla, efeito direto do precioso cruzamento de ritmos e novas possibilidades conceituais que servem de sustento ao trabalho.

Não por acaso, Matos inaugura o álbum com a atmosférica Toca Discos. Enquanto os versos da canção refletem o romantismo agridoce que serve de sustento ao disco – “Minha alma gêmea é grande / E quando eu me olho no espelho / Eu te acho tão parecido / Perdendo o juízo” –, vozes ecoadas e melodias cuidadosamente trabalhadas dentro de estúdio se revelam aos poucos, sem pressa. São inserções pontuais que vão do R&B ao pop, do trap ao reggae de forma sempre inebriante, como se a artista soubesse o momento exato para encaixar cada elemento, mesmo o mais discreto.

Exemplo disso pode ser percebido em Valeu, terceira composição do álbum. Enquanto Matos transforma a própria voz em um instrumento, costurando melodias, texturas e batidas espaçadas que evocam Erykah Badu, versos detalhistas passeiam pelo cotidiano da artista de forma descritiva, estrutura que ganha ainda mais destaque com a participação do rapper carioca MV Bill. “Nada me abala, quando o dia acaba, a noite vai surgir / Teu abraço, tira meu cansaço, me leva daqui / Curtindo a minha rainha, mulher / Faço o que tu quiser, só pra ganhar cafuné“, confessa enquanto vozes ecoadas reverberam ao fundo do registro, como um mantra.

Nada que se compare ao material entregue em Medito e Me Acalmo. De essência autobiográfica, a canção passeia em meio a memórias e vivências ainda recentes da artista brasiliense, porém, de forma sempre transformadora, como um olhar maduro em relação aos próprios conflitos. “Sozinha em São Paulo, acreditei em vários / Quase cai por vários, tropecei mas não caio“, rima. O mesmo direcionamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. Canções como Água de Coco e Balanço em que se divide entre momentos de angústia e doce celebração.

Se por um lado o bloco inicial do disco reflete a capacidade de Matos em transitar por diferentes estilos e temáticas, por outro, não há como ignorar o forte aspecto monotemático que embala a metade seguinte do álbum. Passada a releitura de Me ame em Miami, música originalmente lançada em Eletrocardiograma, tudo gira em torno de um limitado conjunto de ideias e versos bastante previsíveis, sempre regidos pelo romantismo torto da rapper, como um regresso pouco inspirado ao mesmo território criativo do disco anterior. Canções como Boy Magia e Nenhum Rapaz que mais parecem espelhar a poesia e os temas instrumentais de Toca Discos, Valeu e demais composições apresentadas nos minutos iniciais do registro.

Claro que isso não interfere na produção de faixas como a ótima I Love You. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a canção regida pela guitarra de Matos segue uma trilha distinta em relação ao material entregue restante do álbum. A própria Deixa o Mundo Girar, apresentada minutos antes, evidencia uma aproximação maior com a música brasileira, porém, preservando a essência romântica que aponta para o R&B dos anos 1990/2000. Um precioso cruzamento de informações que sintetiza o que há de mais versátil na obra da artista brasiliense, mesmo nos momentos de maior conforto e acomodação.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.