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Crítica

Shura

: "Forevher"

Ano: 2019

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Pop, Synthpop, Pop

Para quem gosta de: Blood Orange e Kindness

Ouça: Religion, Tommy e BKLYNLDN

8.0
8.0

“Forevher”, Shura

Ano: 2019

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Pop, Synthpop, Pop

Para quem gosta de: Blood Orange e Kindness

Ouça: Religion, Tommy e BKLYNLDN

/ Por: Cleber Facchi 20/08/2019

O que fazer quando a pessoa que você ama decide mudar de país? Consumida pela dor da separação e inevitável desejo de seguir em frente após a decisão da namorada em mudar de Londres para Nova Iorque, Alexandra Lilah Denton, a Shura, decidiu transformar as próprias desilusões na base para o segundo álbum de estúdio da carreira. Intitulado Forevher (2019, Secretly Canadian), o trabalho produzido em parceria com Joel Pott (London Grammar, George Ezra) se espalha em meio a fragmentos minimalistas, canções que apontam para o pop empoeirado dos anos 1980 e instantes de profunda entrega sentimental, como um avanço claro em relação ao material entregue no antecessor Nothing’s Real (2016).

Eu vou escrever uma musica para você“, anuncia em That’s Me, Just a Sweet Melody, logo nos primeiros minutos do disco, apontando a trilha intimista que segue até o último verso da derradeira Skyline, Be Mine. São versos confessionais, sempre melancólicos, como uma interpretação ainda mais sensível do material entregue há três anos. “Essa música define o álbum. Claro, a piada é que não é apenas uma música, mas um álbum inteiro sobre minha experiência em estar apaixonada“, respondeu no Twitter.

Uma vez imersa nesse cenário, Shura se divide entre a produção de faixas deliciosamente dançantes, como a nostálgica The Stage, e instantes de parcial recolhimento criativo, como um reforço ao lirismo triste que serve de sustento à obra. Exemplo disso ecoa com naturalidade na atmosférica Princess Leia. “Como posso ter certeza de que ainda estou vivo? / Talvez eu tenha morrido quando Carrie Fisher morreu / Servida como se fosse um refrigerante / Nem queria, mas é de cortesia“, canta em uma delicada reflexão sobre as próprias emoções, a passagem do tempo e a inevitabilidade da morte, elemento que ganha destaque em momentos estratégicos da obra.

É o caso de Tommy, música que parte de uma conversa entre a cantora e um homem que ela conheceu no Texas, mas que cresce em meio a inquietações sobre a morte e o desejo de seguir em frente, sempre em busca de um novo amor. “Eu estou no paraíso sem você, mas / Apenas tenha o seu tempo, eu ficarei bem”, canta. Pouco mais de quatro minutos em que Shura vai de cenas e personagens descritivos para a formação de versos que refletem as angústias da própria artista, conceito que acaba se repetindo em músicas como Forever e Side Effects.

Claro que tamanha melancolia não interfere na produção de temas talvez alheios a esse mesmo universo. “Nós temos conversado pelo telefone durante horas / Enquanto eu estiver pensando em beijar você / Eu quero consagrar seu corpo, transformar a água em vinho / Eu sei que você está pensando em me beijar também“, canta em Religion (U Can Lay Your Hands on Me), música que trata do amor e do sexo como uma experiência quase religiosa, estrutura que se completa pela fina base instrumental da canção, ancorada em elementos que vão do pop ao funk dos anos 1970.

Pontuado por instantes de sublime experimentação, como em BKLYNLDN, música que joga com a propositada mudança de ritmo, Forevher cresce como um produto das experiências e conflitos particulares de Shura, mas que a todo momento parecem dialogar com o ouvinte. Canções que refletem o turbulento período de ruptura emocional da artista, com suas histórias, pensamentos e personagens específicos, mas que em nenhum momento se revelam ao público de forma hermética, fazendo da dor que rege o disco o estímulo para uma obra de interpretação universal.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.