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Crítica

Four Tet

: "Parallel"

Ano: 2020

Selo: Text

Gênero: Eletrônica, IDM, Techno

Para quem gosta de: Aphex Twin e Floating Points

Ouça: Parallel 2, Parallel 4 e Parallel 8

7.5
7.5

Four Tet: “Parallel”

Ano: 2020

Selo: Text

Gênero: Eletrônica, IDM, Techno

Para quem gosta de: Aphex Twin e Floating Points

Ouça: Parallel 2, Parallel 4 e Parallel 8

/ Por: Cleber Facchi 07/01/2021

Descanso é uma palavra que não faz parte do vocabulário de Kieran Hebden, o Four Tet. Poucos meses após o lançamento do elogiado Sixteen Oceans (2020), trabalho marcado pelo uso de captações de campo, ambientações etéreas e formas orgânicas, o produtor britânico está de volta com Parallel (2020, Text). Lançado de surpresa, na manhã de Natal, o registro que ainda veio acompanhado da coletânea 871 (2020), reflete a imagem de um artista que mesmo dotado de uma identidade bastante característica, sabe como se reinventar a cada novo álbum de inéditas.

Naturalmente íntimo de tudo aquilo que Hebden tem produzido desde o amadurecimento artístico em There Is Love in You (2010), o trabalho de dez faixas, todas batizadas com o mesmo nome, estabelece um ponto de equilíbrio entre o conforto das melodias e a quebra ocasionada pelo uso torto das batidas. São melodias empoeiradas, loops e sintetizadores que parecem pensados para confortar o ouvinte, porém, de forma pouco convencional, como se mesmo nos momentos de maior tranquilidade da obra, o produtor jogasse com a experiência do público de forma delirante.

E isso se reflete com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, com Parallel 2. Fuga da morosidade proposta na exageradamente longa canção de abertura – com mais de 26 minutos de duração –, a faixa de essência nostálgica costura passado e presente do produtor britânico sem perder o frescor. Instantes em que Hebden evoca a obra de veteranos como Aphex Twin e Boards of Canada, contudo, preservando a própria identidade criativa, tratamento que se reflete na progressão dos pianos, vozes manipuladas e batidas que invariavelmente convidam o ouvinte a dançar.

O mesmo tratamento, porém, preservando parte da sonoridade explorada em Sixteen Oceans, acaba se refletindo mais à frente, em Parallel 4. Enquanto Hebden brinca com o som torto das batidas, sobrepondo texturas eletrônicas e vozes tratadas como um instrumento, captações de grilos garantem à composição uma atmosfera noturna. É como se cada fragmento transportasse o ouvinte para um novo território, proposta que volta a se repetir em Parallel 8, música que transita por entre gêneros e diferentes variações rítmicas, indicativo da completa versatilidade de Four Tet.

Entretanto, como indicado logo na introdutória Parallel 1, o novo álbum de Four Tet se divide entre momentos de maior experimentação e faixas deliciosamente contidas. Se por um lado a já citada canção de abertura parece sufocar a experiência do ouvinte, outras como Parallel 6 e Parallel 7 evidenciam o completo refinamento de Hebden. São delicadas camadas de sintetizadores e melodias etéreas que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, proposta que amplia parte da leveza incorporada pelo próprio artista durante o lançamento do também versátil New Energy (2017).

Equilibrado, como grande parte dos lançamentos apresentados por Four Tet na última década, Parallel nasce como um evidente exercício de estilo, porém, a todo momento gratifica o ouvinte com uma série de criações marcadas pela inusitada composição dos elementos. Canções como as atmosféricas Parallel 9, com seus pianos cristalinos e cantos de pássaros, e toda uma série de outras faixas que tingem com incerteza o processo de formação da obra. Um misto de conforto e pontual agitação criativa que surpreende mesmo nos momentos de maior comodidade do álbum.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.