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Crítica

Frances Quinlan

: "Likewise"

Ano: 2020

Selo: Sadle Creek

Gênero: Indie Rock, Indie Pop

Para quem gosta de: Hop Along e Vagabon

Ouça: Rare Thing e Your Reply

7.5
7.5

Frances Quinlan: “Likewise”

Ano: 2020

Selo: Sadle Creek

Gênero: Indie Rock, Indie Pop

Para quem gosta de: Hop Along e Vagabon

Ouça: Rare Thing e Your Reply

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2020

Como vocalista e principal articuladora do Hop Along, Frances Quinlan passou grande parte da última década se revezando na composição de uma série de obras marcadas pela completa versatilidade dos arranjos e profunda entrega emocional, direcionamento evidente em músicas como How Simple e The Knock. São trabalhos como Get Disowned (2012), Painted Shut (2015) e o ainda recente Bark Your Head Off, Dog (2018), lançado há dois anos, que fizeram do quarteto da Filadélfia um dos projetos mais significativos do período, acerto que se reflete no primeiro álbum da artista em carreira solo, Likewise (2020, Sadle Creek).

Co-produzido em parceria com Joe Reinhart, parceiro de banda no Hop Along, o trabalho de apenas nove faixas mostra o esforço de Quinlan em se reinventar dentro de estúdio. Do momento em que tem início, na colorida Piltdown Man, canção que parece saída de algum disco de Frankie Cosmos, até alcançar a derradeira Carry the Zero, inusitada releitura de uma das grandes músicas do Built to Spill, cada composição parece transportar o ouvinte para um novo território criativo, indicativo da completa versatilidade da artista.

Exemplo disso está na sequência formada por Your Reply e Rare Thing. Enquanto a primeira faixa encanta pelo esmero na composição das melodias, linhas de vozes e guitarras que parecem saídas de algum clássico esquecido dos anos 1990, na canção seguinte, a proposta passa a ser outra. São pouco mais de três minutos em que Quinlan estreita a relação com o uso de sintetizadores e ambientações ocasionais, fazendo da linha de baixo destacada um complemento aos versos sempre guiados pela força dos sentimentos. “Pela janela você olha para mim / Eu tenho que parar e admitir que você me faz feliz“, canta.

Mais à frente, em Now That I’m Back, o mesmo cuidado na composição dos arranjos e vozes. São versos descritivos que discutem a passagem do tempo, o isolamento e as angústias da artista, concito que tem sido explorado desde a estreia do Hop Along, mas que ganha ainda mais destaque nas canções do presente álbum. A própria escolha da artista em revisitar a obra de Doug Martsch, na adaptação de Carry To Zero, parece contribuir para o direcionamento dado ao disco, sempre guiado pela poesia melancólica e introspectiva de Quinlan.

Mesmo guiado pela incerteza das ideias e temas pessoais detalhados na composição das letras, interessante perceber em Likewise um dos trabalhos mais acessíveis já produzidos por Quinlan. Do uso de melodias acústicas, como Lean, passando pelo flerte com a música eletrônica, em Rare Thing e Detroit Lake, sobram instantes em que a vocalista do Hop Along parece estreitar a relação com o ouvinte, fazendo da leveza na formação dos arranjos a passagem para esse cenário liricamente diverso, como um avanço claro em relação aos antigos trabalhos de estúdio.

Com base nessa estrutura, Quinlan faz de Likewise um novo exercício de apresentação. Não se trata de uma obra maior do que os antigos trabalhos do Hop Along, mas uma propositada curva criativa, estrutura que se reflete não apenas na busca por novas possibilidades e ritmos, mas, principalmente, na forma com a cantora e compositora norte-americana detalha os próprios sentimentos. Canções regidas pelo incerto, como se cada faixa apresentada pela artista servisse de passagem para um novo e sempre delicado universo criativo.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.