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Crítica

Future Islands

: "As Long as You Are"

Ano: 2020

Selo: 4AD

Gênero: Synthpop, Indie, Pop Rock

Para quem gosta de: Porches e Majical Cloudz

Ouça: Moonlight e Born In a War

7.5
7.5

Future Islands: “As Long as You Are”

Ano: 2020

Selo: 4AD

Gênero: Synthpop, Indie, Pop Rock

Para quem gosta de: Porches e Majical Cloudz

Ouça: Moonlight e Born In a War

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2020

As Long as You Are (2020, 4AD) é um trabalho que você sabe exatamente o que irá encontrar, mas que em nenhum momento parece consumido pela ausência de novidade. Sexto e mais recente álbum de estúdio do Future Islands, o sucessor The Far Field (2017) estabelece na força dos sentimentos e experiências vividas pelo vocalista Samuel T. Harring a base para grande parte das faixas apresentadas pelo grupo de Greenville, Carolina do Norte. Canções que ganham forma em meio a melodias nostálgicas, sintetizadores e fórmulas empoeiradas, porém, dotadas de um frescor único, efeito direto da completa vulnerabilidade expressa pelo artista durante toda a execução do disco.

Aqui está meu coração / Não quebre / É tudo que eu peço / Nada mais“, canta em Moonlight. Uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, a canção estabelece no lirismo sorumbático dos versos uma síntese clara de tudo aquilo que o grupo, completo pelos músicos Gerrit Welmers, William Cashion e Michael Lowry, busca desenvolver ao longo do registro. Frações poéticas ancoradas em memórias de um passado ainda recente, como uma reinterpretação de tudo aquilo que o quarteto havia testado em sua maior obra, o cultuado Singles (2014).

Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do trabalho, em Glada. “Quem sou eu? / Por que eu mereço o mar de novo? / Depois de tudo que fiz / E encontrar o amor no final“, canta Harring em tom melancólico, antecipando uma série de conceitos que serão ampliados ao longo da obra. São versos em que discute o isolamento do eu lírico, o olhar entristecido para o passado e o medo de embarcar em um novo relacionamento. Instantes em que o músico norte-americano utiliza dos próprios conflitos como um precioso componente de diálogo com o ouvinte, proposta que acaba se refletindo em outros momentos ao longo do disco, como em Thrill e na derradeira Hit The Coast.

A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, como Singles e The Far Field, está na forma como a tristeza de Harring transborda lentamente, sufocando o ouvinte. “Eu conhecia você / Eu te conheci como você era, não como você é / Você me conhecia também“, relembra em I Knew You, música adornada pela poesia descritiva dos versos e um turbilhão emocional que avança em uma medida particular de tempo, sem pressa. É como se o músico resgatasse diferentes aspectos da própria vida sentimental, sempre dividido entre o arrependimento e a triste aceitação.

Entretanto, mesmo consumido pela dor, As Long as You Are estabelece pequenos respiros criativos que distanciam a obra de uma experiência monotemática. É o caso de Born In a War. Pontuada por memórias da infância, a canção vai de experiências vividas na década de 1980 ao atual cenário político dos Estados Unidos. Mesmo a base instrumental da canção segue uma trilha distinta em relação ao tratamento econômico do restante do álbum. São batidas e sintetizadores destacados, estrutura volta a se repetir em outros momentos ao longo do disco, como em For Sure, música que emula a boa fase de nomes como New Order e Depeche Mode.

Equilibrado, como tudo aquilo que os integrantes do Future Islands têm produzido desde o início da década passada, As Long as You Are concentra todos os elementos que fizeram do grupo um dos mais queridos da cena norte-americana. Canções que preservam o lado mais acessível da banda, arrastando os ouvintes para as pistas sem grandes dificuldades, porém, sempre pontuadas por momentos de maior melancolia e profunda entrega sentimental. Um misto de dor e permanente libertação, proposta que embala a experiência do público do primeiro ao último instante do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.