Poucos artistas souberam replicar com tamanha naturalidade a essência da música brasileira produzida nos anos 1960 e 1970 quanto os paulistanos do Garotas Suecas. Em Escaldante Banda (2010), primeiro álbum de estúdio do grupo formado por Guilherme Saldanha (voz e gaita), Tomaz Paoliello (guitarra, violão e voz), Sergio Sayeg (guitarra e violão), Irina Chermonte (órgão, piano e voz), Fernando Freire (baixo e voz) e Nico Paoliello (bateria e voz), cada composição do disco parece pensada para mergulhar o ouvinte em um oceano de doce nostalgia, efeito direto da percussão destacada, lembrando os trabalhos de Gilberto Gil e Os Mutantes em início da carreira, ou mesmo das guitarras empoeiradas que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra.

Entretanto, longe da preguiçosa reciclagem de tendências, sobrevive na força dos versos, sempre cômicos, e temas atualizados, um importante componente criativo para o fortalecimento do registro. São relacionamentos fracassados (Não Se Perca Por Aí, Banho de Bucha), confissões românticas (Ela) ou mesmo letras mundanas (Mercado Roque Santeiro, Você Não É Tudo Isso Meu Bem) que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte. Um olhar curioso e bem-humorado sobre tudo aquilo que existe de mais trágico na vida de qualquer indivíduo, estrutura que se completa pela inserção de vozes em coro, o suingue digno de Tim Maia e uma leveza poucas vezes antes replicada em outros nomes recentes da nossa música. Da primeira à última faixa, uma verdadeira coleção de clássicos.

Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.