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Crítica

Gordi

: "Our Two Skins"

Ano: 2020

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Indie Pop, Folk Rock

Para quem gosta de: Bon Iver e Lucy Dacus

Ouça: Sundwiches, Unready e Aeroplane Bathroom

7.8
7.8

Gordi: “Our Two Skins”

Ano: 2020

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Indie Pop, Folk Rock

Para quem gosta de: Bon Iver e Lucy Dacus

Ouça: Sundwiches, Unready e Aeroplane Bathroom

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2020

Our Two Skins (2020, Jagjaguwar) é uma obra regida pela força dos sentimentos. Segundo e mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora australiana Sophie Payte, a Gordi, o trabalho de essência intimista encontra em desilusões amorosas, medos e conflitos vividos pela artista o estímulo para grande parte das faixas. “Sim, minha boca está cansada de morder minha língua / E minhas unhas estão sangrando / Minha cabeça está claramente turva / E eu estou tão cansada de me desfazer“, desaba logo nos primeiros minutos do disco, em Aeroplane Bathroom, canção que aponta a direção seguida até o último instante do trabalho.

Conceitualmente desafiador quando próximo do registro que o antecede, o bom Reservoir (2017), Our Two Skins, como o próprio título aponta, alterna entre momentos de maior melancolia e instantes de doce libertação. São composições que partem de uma base essencialmente contida, porém, crescem à medida em que Payte se revela por completo, estreitando a relação com o ouvinte. Exemplo disso está na já conhecida Volcanic. Entre vozes carregadas de efeitos, lembrando o trabalho de Bon Iver, a musicista revela ao público uma canção que parece maior a cada novo movimento, culminando em um fechamento catártico. “Eu tenho esses momentos em que entro em pânico / Quando eu desligo e fico louco / Tão eruptiva e destrutiva, como eu sou vulcânica“, canta.

Mesmo a disposição das faixas no interior do trabalho parece seguir essa dualidade. Instantes em que a artista alterna entre faixas econômicas e composições grandiosas, garantindo ritmo ao disco. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do álbum, na sequência composta por Aeroplane Bathroom e Unready. São pouco mais de nove minutos em a cantora parte de uma ambientação contida, revela incontáveis camadas de sintetizadores, guitarras e vozes, porém, estabelece na força das batidas um importante elemento de ruptura, ampliando os limites da própria obra.

Com base nessa estrutura, Gordi faz de Our Two Skins um trabalho capaz de dialogar com uma parcela ainda maior do público. São canções que partem da constante sensação de deslocamento do eu lírico, proposta que faz lembrar dos registros de veteranos como Elliott Smith e Death Cab For Cutie. “E eu não vou iluminar suas palavras / Vou perseverar até doer / Desistir de tudo apenas para ser ouvida / E eu não ousaria odiar o mundo“, canta em Hate The World, música que sintetiza parte da melancolia e visão solitária da artista, como uma extensão natural de tudo aquilo que a cantora tem produzido desde o primeiro álbum de inéditas.

Interessante perceber no tratamento dos arranjos um complemento aos versos lançados por Gordi. São camadas discretas de guitarras, ambientações eletrônicas ou mesmo vozes fragmentadas que servem de alicerce para as faixas. Longe do reducionismo que embala grande parte do repertório entregue no disco anterior, Payte entrega ao público uma obra que exige ser desvendada. Composições como Aeroplane Bathroom, Volcanic e Free Association que funcionam em uma rápida audição, porém, parecem maiores e ainda mais complexas quando observadas atentamente.

Co-produzido em parceria com Chris Messina (Bon Iver, Hand Habits) e Zach Hanson (Owen, S. Carey), Our Two Skins evidencia o esforço de Gordi em avançar criativamente em relação ao material entregue no disco anterior. Do criativo cruzamento de ritmos que embala grande parte das faixas, passando pelo uso de pequenas abstrações eletrônicas e melodias sintéticas, tudo parece pensado para cercar e confortar o ouvinte, convidado a partilhar das mesmas emoções vividas pela artista e detalhadas de maneira sutil até a música de encerramento do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.