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Crítica

Harry Styles

: "Fine Line"

Ano: 2019

Selo: Erskine / Columbia

Gênero: Pop, Rock, R&B

Para quem gosta de: King Princess e Troye Sivan

Ouça: Cherry, Watermelon Sugar e Adore You

7.0
7.0

Harry Styles: “Fine Line”

Ano: 2019

Selo: Erskine / Columbia

Gênero: Pop, Rock, R&B

Para quem gosta de: King Princess e Troye Sivan

Ouça: Cherry, Watermelon Sugar e Adore You

/ Por: Cleber Facchi 16/12/2019

Longe do One Direction, Harry Styles parece ter encontrado um evidente ponto de equilíbrio. Sem necessariamente perder a essência pop dos antigos trabalhos, em carreira solo, o músico britânico confessa algumas de suas principais referências, estabelecendo na música dos anos 1960 e 1970 um importante alicerce criativo. Prova disso está na composição de faixas como Sign of the Times, Sweet Creature e todo o fino repertório que marca o primeiro álbum de estúdio do artista, lançado há dois anos. Um misto de passado e presente, estrutura que ganha ainda mais destaque no recém-lançado Fine Line (2019, Erskine / Columbia).

Segundo e mais recente registro de inéditas do cantor britânico, o trabalho que conta com produção dividida entre Kid Harpoon (Florence + The Machine, Jessie Ware) e Tyler Johnson (Ed Sheeran, Taylor Swift) segue exatamente de onde o músico parou no álbum anterior, costurando diferentes ritmos e fórmulas instrumentais de forma sempre acessível. Canções ancoradas em conflitos sentimentais, instantes de doce melancolia e versos puramente confessionais, proposta que orienta a experiência do ouvinte até o último instante do trabalho, na autointitulada faixa de encerramento do disco.

A principal diferença em relação ao registro anterior está na forma como Styles divide o disco em duas porções distintas. De um lado, faixas puramente comerciais e dançantes, como se pensadas para dialogar com uma parcela ainda maior do público. Exemplo disso está na colorida Watermelon Sugar. “Tem gosto de morangos em uma noite de verão / E soa como uma música / Eu quero sua barriga e aquele sentimento de verão / Eu não sei se eu poderia ficar sem“, confessa em um delicioso ato de entrega sentimental. São versos curtos, cíclicos, proposta que naturalmente captura a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades.

Entretanto, é no segundo bloco de faixas que o disco encanta e cresce. São músicas regidas pelo minimalismo dos arranjos, sempre sensíveis, porém, completas pela força dos sentimentos compartilhados pelo artista. É o caso da dolorosa Cherry. Inspirada pelo término de relacionamento de Styles com a modelo francesa Camille Rowe, a composição se revela ao público em pequenas doses, cercando e confortando o ouvinte. “Eu confesso, posso dizer que você está no seu melhor / Mas eu sou egoísta, então eu estou odiando / Notei que há um pedaço de você em como me visto / Tome isso como um elogio“, canta enquanto violões, batidas e guitarras marcadas pela forte distorção correm ao fundo da canção.

A mesma melancolia acaba se refletindo na canção seguinte, Falling. “Estou na minha cama / E você não está aqui / E não há ninguém para culpar se não a bebida e minhas mãos errantes“, desaba emocionalmente enquanto questiona: “O que eu sou agora? / E se eu sou alguém que não quero por perto?“. É como se do material apresentado em Two Ghosts, do disco anterior, o músico fosse além. São versos tristes que se espalham em meio a pianos contidos, como uma fuga do R&B psicodélico detalhado em algumas das faixas mais intensas do álbum, como Adore You, Lights Up e a inaugural Golden, canção que parece saída de algum exemplar do rock inglês nos anos 2000.

Com base nessa estrutura, Styles e seus parceiros de estúdio entregam ao público uma obra essencialmente equilibrada. Um misto de dor e celebração romântica, isolamento e busca declarada por um novo amor. Pouco mais de 40 minutos em que o músico britânico transforma os próprios sentimentos, conflitos e experiências recentes no principal componente criativo para a formação dos versos, proposta que não apenas preserva, como sutilmente amplia tudo aquilo que o artista havia testado durante o lançamento do álbum anterior.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.