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Crítica

Hayley Williams

: "Petals For Armor"

Ano: 2020

Selo: Atlantic

Gênero: Pop Rock, Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e MUNA

Ouça: Simmer e Leave It Alone

7.0
7.0

Hayley Williams: “Petals for Armor”

Ano: 2020

Selo: Atlantic

Gênero: Pop Rock, Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e MUNA

Ouça: Simmer e Leave It Alone

/ Por: Cleber Facchi 19/05/2020

Hayley Williams sempre encontrou na força dos próprios sentimentos, medos e profunda entrega sentimental a base parca da novo registro autoral. E isso se reflete com naturalidade em cada um dos trabalhos produzidos pelo Paramore, sua principal banda, ao longo dos anos, caso de Riot! (2007) ou mesmo o ainda recente After Laughter (2017), obra em que transita de forma nostálgica pelo pop dos anos 1980. Entretanto, é com a chegada de Petals For Armor (2020, Atlantic), primeiro álbum em carreira solo, que a cantora e compositora norte-americana se revela por completo.

A raiva é uma coisa quieta / Você pensa que a domesticou / Mas ela está apenas esperando“, canta na introdutória Simmer, canção que se revela ao público em uma medida particular de tempo, sem pressa, como uma síntese conceitual de tudo aquilo que a artista reserva até o último segundo da obra. São versos que transitam entre a dor e a libertação, o recolhimento e a busca declarada por um novo começo, estrutura que passa por diferentes aspectos da vida de Williams, como o término de relacionamento com Chad Gilbert, do New Found Glory, com quem esteve junto durante quase uma década, e uma série de problemas relacionados à própria depressão, medo e conflitos intimistas.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Leave It Alone, um delicado exercício de profunda entrega sentimental que não apenas reflete o detalhamento lírico da artista, como a doce melancolia que serve de sustento ao trabalho. “Ninguém pode me dizer que Deus não tem um senso de humor / Porque agora que eu quero viver / Bem, todo mundo ao meu redor está morrendo“, canta. São versos tristes que alterna entre o próprio isolamento e o permanente desejo em romper com a solidão, conceito que se reflete em parte expressiva da obra do Paramore, mas que ganha ainda mais destaque com o presente disco.

Parte dessa evidente melancolia que consome a obra vem da forma como o multi-instrumentista Taylor York, parceiro de banda no Paramore e co-produtor do disco, auxilia Williams nessa jornada. São músicas como Creepin’, Sudden Desire e a já citada Simmer, em que a dupla norte-americana investe na composição de temas atmosféricos, ruídos ocasionais e guitarras que confessam algumas das principais referências criativas da artista, vide a forte similaridade com os trabalhos de Thom Yorke em carreira solo. Instantes em que a cantora preserva e perverte tudo aquilo que tem produzido em quase duas décadas de carreira.

É justamente quando perverte parte dessa estrutura e avança em direção a uma sonoridade cada vez mais pop, como em Dead Horse e Over Yet, que Williams evidencia os momentos de maior instabilidade da obra. Canções que mais parecem sobras de estúdio de After Laughter, como uma tentativa da cantora em amarrar passado e presente da própria carreira. Por outro lado, essa mesma necessidade em avançar criativamente revela ao público músicas curiosas. É o caso de Roses/Lotus/Violet/Iris, bem-sucedido encontro com Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, do Boygenius, e uma representação da força vocal da artista, lembrando o trabalho de Björk no início da carreira.

Obra de possibilidades, Petals For Armor nasce como uma tentativa clara de Williams em se reinventar criativamente dentro de estúdio, conceito que se reflete até a derradeira Crystal Clear. São composições que apontam para diferentes campos da música (Dead Horse), encolhem (Leave It Alone), crescem (Pure Love) ou sutilmente convidam o ouvinte a dançar (Sugar On The Rim). Um lento desvendar de ideias e experiências conceituais que vai da melancolia à libertação de forma sempre particular, sensível, como um documento vivo que reflete parte das experiências e conflitos sentimentais acumulados pela artista ao longo dos anos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.