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Crítica

Hazel English

: "Wake Up!"

Ano: 2020

Selo: Polyvinyl Records

Gênero: Indie Pop, Pop Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Alvvays e Yumi Zouma

Ouça: Shaking e Off My Mind

7.3
7.3

Hazel English: “Wake Up!”

Ano: 2020

Selo: Polyvinyl Records

Gênero: Indie Pop, Pop Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Alvvays e Yumi Zouma

Ouça: Shaking e Off My Mind

/ Por: Cleber Facchi 14/05/2020

Não é de hoje que Hazel English tem encontrado no pop dos anos 1950 e 1960 a base para os próprios registros autorais. São preciosidades como Love Is Dead, I’m Fine e todo o fino repertório que embala o confessional Just Give In / Never Going Home (2017), EP duplo que apresentou o trabalho da cantora e compositora australiana, mas que ganha novo direcionamento criativo nas canções de Wake Up! (2020, Polyvinyl Records), primeiro álbum de estúdio da artista residente nos Estados Unidos e um complemento ao material entregue desde o início da carreira.

Co-produzido em parceria com os experientes Ben H. Allen III (Animal Collective, Deerhunter) e Justin Raisen (Angel Olsem, Sky Ferreira), o registro de dez faixas estabelece na simplicidade dos elementos a base para grande parte das canções. São guitarras e batidas rápidas que se projetam de forma a alavancar os versos lançados por English, estrutura que vai do rock litorâneo ao doo wop, do pop psicodélico às baladas de Roy Orbison, como um precioso resgate de ideias e estruturas sempre referenciais.

Exemplo disso está na enérgica Shaking. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa ganha forma em meio a guitarras empoeiradas, vozes em coro e teclados ocasionais, como uma canção esquecida dos anos 1960. Instantes em que English emula a essência de veteranos como The Beach Boys e The Turtles, porém, carrega nos versos a força da própria identidade criativa. “Reze por mim / Eu quero cometer pecado / Águas profundas / Mas eu já estou na metade“, provoca, fazendo dos desejos e inquietações particulares um elemento de diálogo com o ouvinte.

A mesma força criativa acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. É o caso de Milk and Honey, canção que aponta para a década de 1970, como uma possível pista para os futuros trabalhos da cantora. A própria faixa-título do disco, com suas guitarras e batidas cuidadosamente encaixadas, contribuem para o direcionamento nostálgico dado ao trabalho. Instantes em que a australiana vai da obra de veteranas, como The Shangri-Las, ao som produzido por outros nomes recentes do gênero, como Alvvays, Jay Som e demais artistas regidos pelo mesmo aspecto revisionista.

Entretanto, é justamente quando perverte parte dessa urgência, como em Combat e Off My Mind, que a cantora de fato mostra a que veio. Canções que vão da chanson française ao soul, como se a musicista australiana, mesmo imersa nesse cenário conceitual, buscasse por novas possibilidades e ritmos. A própria faixa de encerramento do disco, Work It Out, reflete esse esforço da cantora em se reinventar criativamente. São ambientações enevoadas e versos melancólicos que se entrelaçam de forma sensível, como um regresso aos primeiros registros da artista, vide faixas como It’s Not Real e Fix.

Partindo desse colorido resgate conceitual e busca por novas sonoridades, English entrega ao público uma obra essencialmente equilibrada. É como se a cantora e compositora australiana revelasse algumas de suas principais referências criativas, porém, preservando a própria assinatura. Um curioso olhar para o passado, mas que em nenhum momento parece sufocar pela nostalgia dos temas, conceito que se reflete no evidente frescor dado aos versos, melodias sempre ensolaradas e evidente entrega sentimental da artista, minúcia que se reflete do primeiro ao último instante do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.