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Crítica

Mac DeMarco

: "Here Comes the Cowboy"

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Indie, Indie Folk

Para quem gosta de: Ariel Pink e Homeshake

Ouça: Nobody, Finally Alone e Baby Bye Bye

6.0
6.0

“Here Comes the Cowboy”, Mac DeMarco

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: Indie, Indie Folk

Para quem gosta de: Ariel Pink e Homeshake

Ouça: Nobody, Finally Alone e Baby Bye Bye

/ Por: Cleber Facchi 14/05/2019

Mac DeMarco nunca foi um artista de grandes pretensões. Desde os primeiros trabalhos de estúdio, como 2 (2012) e Salad Days (2014), foi cantando sobre seu cigarro favorito (Ode To Viceroy), declarações à mulher amada (My Kind of Woman) e as coisas tristes da vida (Chamber of Reflection) que o músico canadense conseguiu atrair a atenção do público, se transformando em um dos personagens de maior destaque na presente década. Um lento reciclar de ideias e experiências particulares, como um convite a se perder na própria zona de conforto.

Sem necessariamente perverter essa estrutura, DeMarco faz do quarto álbum de estúdio, Here Comes the Cowboy (2019, Independente), uma natural extensão de tudo aquilo que vem produzindo nos últimos anos. São melodias embriagadas, cenas e acontecimentos mundanos, delírios românticos e instantes de pura contemplação que se entrelaçam em uma medida própria de tempo, como uma sequência natural de tudo aquilo que o músico havia testado em This Old Dog (2017).

A principal diferença em relação ao registro que o antecede está na forma como DeMarco se concentra na produção de uma obra essencialmente climática, mergulhando no uso de temas e referências particulares. “A palavra ‘cowboy’ é como o nome de um animal de estimação para mim. Eu costumo usá-la quando falo sobre as pessoas da minha vida“, explicou no texto de apresentação do trabalho, conceitualmente ancorado em memórias da infância e nas experiências do próprio artista no interior do Canadá.

Cansado da cidade, trancado com todas as pessoas bonitas / Você precisa de férias … Suba no trem / Veja onde vai / Termine o passeio, desça e se esconda / Agora que você está finalmente sozinho“, canta em Finally Alone, composição que sintetiza o desejo do artista em se isolar criativamente dentro da própria obra. Versos em que reflete sobre a passagem do tempo, o distanciamento entre os indivíduos e, principalmente, relacionamentos fracassados, estímulo para a melancólica Nobody. “Não há como voltar atrás / Para ninguém / Não há segunda chance / Nenhum terceiro grau“, canta em meio a arranjos diminutos, estrutura que amplia de forma expressiva a forte carga emocional da canção.

Parte dessa estrutura vem da forma como o próprio álbum foi concebido. Para a produção do trabalho, DeMarco decidiu assumir individualmente a construção dos arranjos e instrumentos, forçando a composição de um registro contido e acústico, direcionamento evidente em músicas como a sensível K, Heart to Heart e Preoccupied. Dos poucos momentos em que perverte esse conceito, como na divertida Choo Choo, nos sintetizadores de On a Square ou mesmo na experimental faixa de encerramento do disco, Baby Bye Bye, o cantor não apenas preserva a essência dos antigos projetos, como cresce criativamente, garantindo ao disco um evidente ponto de transformação.

Com base nessa estrutura, DeMarco entrega ao público uma obra que deve acertar em cheio o público menos exigente, mas que pouco evolui quando voltamos os ouvidos para os antigos trabalhos do cantor. Da composição dos arranjos, passando pela formação dos versos e sentimentos compartilhados pelo artista, cada fragmento de Here Comes the Cowboy evoca uma doce sensação de acolhimento, como um convite a se perder pelo estranho universo criativo, histórias e vivências do músico canadense.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.