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Crítica

Ian Sweet

: "Show Me How You Disappear"

Ano: 2021

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e No Joy

Ouça: Sing Till I Cry e Sword

7.8
7.8

Ian Sweet: “Show Me How You Disappear”

Ano: 2021

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock, Dream Pop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e No Joy

Ouça: Sing Till I Cry e Sword

/ Por: Cleber Facchi 12/03/2021

A disforme imagem de capa que apresenta o novo álbum de Ian Sweet, Show Me How You Disappear (2021, Polyvinyl), funciona como uma representação exata do som produzido por Jilian Medford no terceiro e mais recente álbum de estúdio da carreira. São guitarras carregadas de efeitos, melodias enevoadas e vozes que se entrelaçam sem ordem aparente, conceito que não apenas distorce grande parte do material entregue pela artista norte-americana nos antecessores Shapeshifter (2016) e Crush Crusher (2018), como tinge com incerteza a experiência do ouvinte até o último acorde de I See Everything, faixa de encerramento do disco.

Parte desse resultado vem justamente da escolha de Medford em estreitar a relação com diferentes parceiros dentro de estúdio. Mesmo responsável pela produção do trabalho, a guitarrista californiana passou quase dois anos colaborando com nomes como Andrew Sarlo (Big Thief, Empress Of), Andy Seltzer (Maggie Rogers) e Daniel Fox. O resultado desse processo está na entrega de uma obra essencialmente ampla, como se cada composição transportasse o ouvinte para um novo território criativo, riqueza que se reflete mesmo nos momentos mais contidos do álbum, como no som atmosférico de Drink The Lake, logo nos primeiros minutos do registro.

Na verdade, cada composição do disco se transforma em um objeto de experimento nas mãos de Medford e seus parceiros. Diferente da estrutura linear seguida em Shapeshifter e Crush Crusher, a artista californiana se concentra na produção de faixas marcadas pela criativa colisão de ideias e pequenas fugas conceituais. Exemplo disso acontece em Sing Till I Cry, quinta faixa do disco. São pouco menos de quatro minutos em que Ian Sweet vai do pop etéreo do Cocteau Twins ao experimentalismo eletrônico de forma sempre delirante, conceito que se reflete no uso fragmentado das batidas e vozes que se transformam em um precioso instrumento.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo em diversos momentos ao longo da obra. Canções como Power e a própria faixa-título do álbum em que Medford costura décadas de referências e diferentes gêneros de forma completamente imprevisível, conceito que torna a experiência de ouvir o trabalho sempre satisfatória. É como se a guitarrista resgatasse parte do material apresentado no álbum anterior, porém, de forma quebrada, com blocos de ruídos que esbarram em melodias cantaroláveis e instantes de evidente diálogo com uma parcela ainda maior do público, marca da músicas como Dirt, Dumb Driver e a já citada Sing Till I Cry.

De fato, poucas vezes antes o som produzido por Ian Sweet pareceu tão acessível quanto em Show Me How You Disappear. Salve exceções, como a atmosférica My Favorite Cloud, cada composição parece pensada para capturar a atenção do ouvinte logo nos primeiros minutos. Canções regidas pelo caráter experimental dos temas, porém, construídas de forma a catapultar as emoções e experiências vividas pela artista. “Eu quero melhorar, melhorar, melhorar / Mas na minha mente eu ainda estou deitada em sua cama“, repete em Get Better, faixa que sintetiza parte das experiências vividas pela artista em grande parte do trabalho.

Nascido do desejo de Medford em testar os próprios limites em estúdio e confessar algumas de suas principais referências criativas, como o grupo britânico Coldplay e o rapper Young Thug, Show Me How You Disappear encanta pela forma como a guitarrista vai de um canto a outro sem necessariamente romper com a forte aproximação entre as faixas. Canções que passeiam pelos mais variados campos da música, mudam de direção e vão do experimentalismo ao pop, porém, utilizando dos sentimentos, conflitos e relacionamentos da artista como elemento de conexão e diálogo quase imediato com o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.