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Crítica

Isabel Lenza

: "Véspera"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Pélico

Ouça: Imenso Verão e Tudo o Que Você Não Vê

7.6
7.6

Isabel Lenza: “Véspera”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Pélico

Ouça: Imenso Verão e Tudo o Que Você Não Vê

/ Por: Cleber Facchi 02/09/2021

Memórias de um passado ainda recente, captações enevoadas e dor. Em Véspera (2021), segundo e mais recente trabalho de estúdio de Isabel Lenza, a cantora e compositora paulistana mira o futuro, porém, a todo momento parece arrastada para trás. “O seu pior ainda paira aqui“, confessa logo nos primeiros minutos do disco, na introdutória e já conhecida Imenso Verão, música que não apenas incorpora a poesia melancólica que consome o álbum, como apresenta parte das regras e conceitos que serão utilizadas até encerramento da obra. Um lento desvendar de ideias e experiências sentimentais que parece dialogar com o que há de mais amargo nas vivências de qualquer indivíduo.

Entretanto, longe de sufocar pela melancolia dos temas e forte caráter monotemático, a real beleza de Véspera sobrevive na capacidade de Lenza em oscilar entre composições sufocantes e momentos de maior libertação. Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos da obra, na dobradinha composta por Eu Sou Meu Lugar e Tudo o Que Você Não Vê. Pouco mais de nove minutos em que a artista paulistana celebra a própria independência sentimental (“Eu vou ser / Meu lugar / Pra voltar“), investe na criação de um som radiante, porém, minutos à frente, desaba emocionalmente, arrastando o ouvinte. “Eu sou / Tudo o que você não vê / Estou / Ao redor, por dentro e entre“, canta.

Essa mesma dualidade se reflete em outros momentos ao longo da obra. Perfeita representação desse resultado acontece em O Melhor Ainda Está Por Vir. Enquanto a base instrumental vai de encontro ao pop atmosférico de nomes como Beach House, na letra, Lenza se divide entre instantes de maior angústia (“Deixa a noite vir / Tarde em tons pastéis / Deixa ele ir“) e versos que contemplam um futuro esperançoso (“Página em branco / Sente como é bom / Estar aqui“). São fragmentos sentimentais que soam como uma extensão do lirismo contrastante adotado pela artista no registro anterior, Ouro (2017), de onde vieram faixa como Cinematográfico e Partícula de Estrela.

A principal diferença em relação ao trabalho lançado há quatro anos está no maior refinamento dado aos arranjos do presente disco. Acompanhada pelo experiente Leonardo Marques, produtor e multi-instrumentista que já trabalhou com nomes como Teago Oliveira, Bernardo Bauer e Moons, Lenza investe na construção de um repertório marcado pelo uso de pianos elétricos, incontáveis camadas de guitarras, melodias acústicas e batidas deliciosamente contidas. É como se cada elemento fosse apresentado ao público em uma medida própria de tempo, sempre de maneira sensível e minuciosa, como um complemento natural aos versos e vozes por vezes limitadas da artista paulistana.

Se por um lado essa maior aproximação entre as faixas garante ao ouvinte uma obra de essência homogênea, onde cada composição serve de passagem para a música seguinte, por outro, Véspera sofre pela parcial ausência de ritmo e abordagem arrastada que consome a segunda metade do trabalho. Passada a apresentação de O Melhor Ainda Está Por Vir, Lenza mergulha em uma seleção de cações que parecem replicar conceitos instrumentais e rítmicos previamente revelados pela artista. Mesmo tematicamente o álbum pouco avança, resgatando uma série elementos, confissões e sentimentos que parecem bem-resolvidos logo na sequência de abertura do material.

Nesse sentido, Véspera serve de passagem para um território particular de Lenza. São canções que partilham de uma mesma base instrumental e poética, como um refúgio momentâneo onde o tempo se permite embriagar pela ausência de pressa. “Vem pra cá acordar preguiçoso / Ao meu lado“, convida em Colados, colaboração com Regis Damasceno e uma síntese da abordagem mansa que serve de sustento ao disco. Composições que confessam sentimentos, se espalham em meio a captações empoeiradas e instantes de maior vulnerabilidade, estímulo para a formação de obra que mesmo pontuada por momentos de maior instabilidade, convence sem grandes dificuldades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.