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Crítica

Jazmine Sullivan

: "Heaux Tales"

Ano: 2021

Selo: RCA

Gênero: Neo-Soul, R&B, Pop

Para quem gosta de: Solange, Beyoncé e Chloe x Halle

Ouça: Lost One e Pick Up Your Feelings

8.0
8.0

Jazmine Sullivan: “Heaux Tales”

Ano: 2021

Selo: RCA

Gênero: Neo-Soul, R&B, Pop

Para quem gosta de: Solange, Beyoncé e Chloe x Halle

Ouça: Lost One e Pick Up Your Feelings

/ Por: Cleber Facchi 12/01/2021

Na contramão de outros nomes importantes do R&B/soul estadunidense, interessados no contínuo lançamento de obras, Jazmine Sullivan sempre seguiu uma medida própria tempo. Perto de completar duas décadas de carreira, a artista original de Filadélfia, Pensilvânia, acumula um repertório ainda enxuto. São três álbuns de estúdio, Fearless (2008), Love Me Back (2010) e Reality Show (2015), sempre apresentados de forma espaçada, em uma medida própria de tempo. Entretanto, o mesmo não pode ser dito sobre a extensa seleção de músicas compostas para outros artistas, como Jennifer Hudson e Fantasia, ou mesmo colaborações com Frank Ocean, Kendrick Lamar e um seleto grupo de vozes negras da cena norte-americana.

Satisfatório perceber nas canções de Heaux Tales (2021, RCA), primeiro registro de inéditas da cantora em seis anos, uma delicada transposição desse mesmo aspecto colaborativo que paralelamente abasteceu a carreira de Sullivan. De essência conceitual, o trabalho que discute empoderamento feminino e funciona como uma celebração às mulheres negras, se abre para a chegada de diferentes colaboradores, vozes, produtores e interferências criativas que ampliam os limites da obra, como uma busca declarada da artista por novas possibilidades dentro de estúdio.

Escrevi Heaux Tales para dar voz a todas as mulheres. Nós merecemos respeito, seja trabalhando como CEO de uma empresa ou como stripper. É uma questão de unidade. É uma questão de ousadia. É sobre propriedade e confiança e também sobre vulnerabilidade e autorreflexão“, comentou no texto de apresentação do disco. E isso se reflete com naturalidade durante toda a execução do álbum. São vinhetas e inserções pontuais que funcionam como um complemento às canções. Relatos que discutem a busca por prazer feminino, autoaceitação e a solidão das mulheres negras. A própria faixa de encerramento do disco, Girl Like Me, parceria com H.E.R., reflete com naturalidade esse mesmo direcionamento criativo e poético.

Sabia que era real quando você me bloqueou / Agora eu fico em casa, julgando meu corpo / Querendo saber o que eu fiz para te perder / Por que diabos você não me escolheu?“, questiona. São versos sempre consumidos pela força dos sentimentos e desejos de Sullivan, conceito reforçado em On It, bem-sucedido encontro com Ari Lennox. “Então, deixe-me ver o que essa boca faz / Porque baby, não é tão fácil me agradar / Sim, preciso disso, sim, preciso da minha atenção / Com posições diferentes“, provoca em meio a guitarras espaçadas que se completam pelo uso quase instrumental da voz.

Curioso notar que mesmo cercada por diferentes colaboradores, sobrevive nos momentos de maior isolamento de Sullivan a passagem para o lado mais sensível da obra. É o caso de Lost One. Do uso meticuloso da guitarra, lembrando o trabalho de Frank Ocean, em Blonde (2016), passando pela força avassaladora dos versos, poucas vezes antes a cantora norte-americana demonstrou tamanho domínio em relação ao próprio trabalho. O mesmo cuidado, porém, partindo de uma abordagem comercial, pode ser percebido em Pick Up Your Feelings, um soul empoeirado, mas que parece capaz de dialogar com nomes como Lianne La Havas e Beyoncé, efeito direto do uso versátil da voz e completa entrega da artista.

Ponto de partida para uma nova fase na carreira da cantora, Heaux Tales se divide entre momentos de maior experimentação e faixas que preservam tudo aquilo que a artista tem produzido desde os primeiros registros autorais. Do encontro com Anderson .Paak, em Pricetags, passando pela crescente The Other Side, música que amplia o material apresentado em Reality Show, cada fragmento do disco reflete a completa versatilidade de Sullivan em estúdio. Instantes em que somos confrontados por experiências e sentimentos bastante particulares, porém, dotados de uma linguagem e força capaz de dialogar com os mais variados públicos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.