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Crítica

Jessie Ware

: "What's Your Pleasure?"

Ano: 2020

Selo: PMR / Friends Keep Secrets / Interscope

Gênero: Pop, Eurodisco, Dance

Para quem gosta de: Robyn, Katy B e Róisín Murphy

Ouça: Spotlight e Adore You

8.5
8.5

Jessie Ware: “What’s Your Pleasure?”

Ano: 2020

Selo: PMR / Friends Keep Secrets / Interscope

Gênero: Pop, Eurodisco, Dance

Para quem gosta de: Robyn, Katy B e Róisín Murphy

Ouça: Spotlight e Adore You

/ Por: Cleber Facchi 02/07/2020

Qual é o seu prazer?

A pergunta levantada por Jessie Ware funciona como um indicativo do ambiente dominado pelas sensações que a cantora e compositora inglesa busca desvendar ao longo do quarto e mais recente álbum de estúdio da carreira. Declaradamente inspirado pela obra de veteranos da década de 1970 e 1980, como Diana Ross, Chic e Change, What’s Your Pleasure? (2020, PMR / Friends Keep Secrets / Interscope) estabelece na composição das batidas, melodias e vozes um precioso diálogo com o passado. Canções marcadas pela essência nostálgica dos arranjos e temas instrumentais, porém, sempre tratadas de forma autoral, proposta que naturalmente distancia a artista de uma previsível reciclagem de tendências.

Pronto para as pistas, como uma fuga do pop contido que embala as canções do antecessor Glasshouse (2017), o registro que conta com a co-produção de James Ford (Arctic Monkeys, Foals), Joseph Mount (Robyn, Metronomy) e Benji B (Kanye West), diz a que veio logo nos primeiros minutos, em Spotlight. São pouco menos de seis minutos em que cada componente da faixa se revela ao público em uma medida própria de tempo, minúcia que vai do encaixe das batidas e vozes, passa pelo uso dos sintetizadores nostálgicos, arranjos de cordas e linha de baixo suculenta, pontuando o ritmo da canção. “E se um toque é apenas um toque, então um toque não é suficiente / Diga o que isso significa, diga que você está apaixonado“, provoca, como se convidasse o ouvinte a dançar.

São versos sempre regido pela força dos sentimentos, como se a cantora resgatasse antigas desilusões, romances e momentos de doce melancolia, porém, preservando a essência dançante do álbum. Exemplo disso ecoa com naturalidade na dobradinha composta por Ohh La La e Soul Control, logo na abertura do disco. Do uso destacado dos sintetizadores aos versos derramados pela artista, perceba como Ware parece jogar com as emoções, proposta que vai do sofrimento à libertação em um intervalo de poucos minutos. São momentos de maior vulnerabilidade que se transformam no principal componente criativo para o fortalecimento da obra, conceito bastante similar ao trabalho de Robyn, em Honey (2018).

Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade em Adore You. Concebida em uma estrutura crescente, a faixa parte de uma base econômica, quase minimalista, porém, ganha forma à medida em que os sentimentos são alavancados pela voz de Ware. “Eu quero dizer ao mundo, quero que todos vejam / Que você pertence a mim“, confessa. A mesma riqueza de detalhes e força na composição dos versos acaba se refletindo mais à frente, na labiríntica Mirage (Don’t Stop). Um misto de passado e presente, reverência e reinterpretação, estrutura que passa pela obra de Sade e Chaka Khan, porém, encanta pela forma como a artista evidencia o mesmo frescor de contemporâneos como Metronomy e Róisín Murphy.

O mais interessante talvez seja perceber essa mesma coerência e aproximação entre as faixas durante toda a execução do trabalho. Na contramão dos primeiros registros autorais, Devotion (2012) e Tough Love (2014), em que se permitia transitar por entre gêneros de forma particular, Ware e seus parceiros de estúdio mantém firme a linha criativa que amarra o disco de uma ponta a outra. Com exceção da derradeira Remember Where You Are, em que desacelera e se distancia das pistas, interessante perceber como cada composição do disco serve de passagem para a faixa seguinte, proposta que faz de What’s Your Pleasure? o trabalho mais consistente da artista.

Princípio de uma nova fase na carreira da cantora, What’s Your Pleasure? estabelece um ponto de equilíbrio entre o olhar curioso para o passado e a necessidade de ampliar a essência dançante que embala parte dos antigos trabalhos da cantora, conceito evidente em músicas como Your Domino e If You’re Never Gonna Move. Da imponente imagem de capa à escolha do repertório, livre de possíveis excessos, Ware garante ao público uma experiência completa. São pouco mais de 50 minutos em que a artista convida o ouvinte a dançar, confessa sentimentos e incontáveis referências, porém, sempre preservando a própria identidade criativa.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.