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Crítica

JFDR

: "New Dreams"

Ano: 2020

Selo: Krunk

Gênero: Art Pop, Folk, Ambient Pop

Para quem gosta de: Susanne Sundfør, Feist e Björk

Ouça: My Work e Taking a Part of Me

7.6
7.6

JFDR: “New Dreams”

Ano: 2020

Selo: Krunk

Gênero: Art Pop, Folk, Ambient Pop

Para quem gosta de: Susanne Sundfør, Feist e Björk

Ouça: My Work e Taking a Part of Me

/ Por: Cleber Facchi 01/12/2020

Cantora, compositora e multi-instrumentista, Jófríður Ákadóttir vem de uma longa tradição de músicos islandeses e diferentes colaborações que atravessam a adolescência e início da vida adulta, como Pascal Pinon, Samaris e Gangly. Entretanto, nenhum deles foi tão bem-sucedido quanto o autoral JFDR. Identidade escolhida para apresentar os próprios trabalhos em carreira solo, o projeto que estreou há pouco mais de três anos, com o lançamento de introdutório Brazil (2017), sustenta nas vozes e sentimentos compartilhados pela artista o estímulo para cada nova composição, entrega que ainda ainda mais destaque em New Dream (2020, Krunk).

Produzido e gravado em grande parte pela própria instrumentista, o álbum de essência atmosférica ganha forma aos poucos, sem pressa, flutuando em meio a reverberações eletroacústicas, texturas e instantes de profunda entrega sentimental. Não por acaso, Ákadóttir inaugura o disco com Care For You. São pouco menos de quatro minutos em que a cantora detalha incontáveis camadas de pianos, guitarras carregadas de efeitos e vozes picotadas, como fragmentos que ampliam os limites da obra, conceito que ganha ainda mais destaque à medida em que o registro avança.

É como se Ákadóttir resgatasse tudo aquilo que foi apresentado durante o lançamento de Brazil, porém, partindo de uma nova abordagem criativa, tratamento que vai do uso inexato dos instrumentos à lenta desconstrução das vozes, componente que surge de maneira complementar ao longo da obra. Exemplo disso acontece no pop quebrado de Taking a Part of Me. Entre batidas que evocam Radiohead e The Knife, vocais distorcidos passeiam livremente pelo interior da faixa, rompendo com qualquer traço de conforto, porém, preservando a base reducionista e uso calculado dos arranjos que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Drifter.

Claro que essa busca de Ákadóttir por um som cada vez menos regular não interfere na entrega de faixas que resgatam os temas acústicos detalhados no disco anterior. Prova disso está em uma das principais músicas do álbum, My Work. “Eu fico olhando para o nada, anseio pela inocência que uma vez pensei que tive / A falta de sentido para um medo que cresce à medida que envelheço / Eu carreguei esses pensamentos e os afoguei em trabalho“, confessa enquanto melodias cristalinas passeiam livremente pelo interior da faixa, lembrando a obra de Joni Mitchell no início dos anos 1970. A própria Shimmer, uma das primeiras criações do álbum a serem apresentadas ao público, reflete a mesma precisão e vulnerabilidade da artista islandesa.

Contudo, são nos momentos de maior instabilidade e necessária renovação que JFDR revela ao público algumas de suas principais criações. São faixas como a curtinha I Wish I’d See The Way You See Me, com suas melodias abafadas e vozes que apontam para os primeiros registros de Feist, ou mesmo Gravity, composição que parece dançar pela cabeça do ouvinte, que Ákadóttir utiliza de cada mínimo fragmento como um precioso componente criativo. Vozes, arranjos e sentimentos que orbitam o universo tão particular quanto íntimo do ouvinte, efeito direto do lirismo universal que serve de sustento ao trabalho.

Deliciosamente sensível, como tudo aquilo que define as criações de JFDR desde o início da carreira, New Dreams, como o próprio título aponta, reflete a busca da artista por novas possibilidades dentro de estúdio. São canções que preservam a essência econômica do registro que o antecede, porém, estabelecem no uso de pequenas experimentações, texturas e vozes fragmentadas a passagem para um novo território criativo. Os sentimentos e experiências reais vividas por Ákadóttir ainda estão lá, presentes durante toda a execução da obra, porém, o enquadramento utilizado agora é outro, o que torna a experiência de ouvir o álbum sempre satisfatória.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.