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Crítica

Jonathan Tadeu

: "Intermitências"

Ano: 2020

Selo: Geração Perdida

Gênero: Indie Rock, Sadcore, Lo-Fi

Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Terno Rei

Ouça: Éramos Jovens Emocionados, Penso e Perco Tempo e É Difícil Encontrar Um Amigo

8.0
8.0

Jonathan Tadeu: “Intermitências”

Ano: 2020

Selo: Geração Perdida

Gênero: Indie Rock, Sadcore, Lo-Fi

Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Terno Rei

Ouça: Éramos Jovens Emocionados, Penso e Perco Tempo e É Difícil Encontrar Um Amigo

/ Por: Cleber Facchi 12/10/2020

Intermitências (2020, Geração Perdida) não é um disco sobre quarentena. Ainda que produzido e gravado durante o período de isolamento social, o quinto e mais recente trabalho de estúdio de Jonathan Tadeu estabelece em recordações de um passado distante a base para grande parte das músicas apresentadas pelo cantor e compositor mineiro. Canções de essência nostálgica que resgatam memórias da infância, esbarram em conflitos intimistas e estabelecem em reflexões amargas sobre a vida adulta o principal componente criativo para a formação dos versos. Um precioso exercício de entrega sentimental, como um avanço claro em relação a tudo aquilo que o artista tem incorporado desde a estreia com Casa Vazia (2015).

Não por acaso, o músico fez de Éramos Jovens Emocionados a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. Da formação dos versos, consumidos por uma temporalidade torta e conflitos existencialistas, passando pela construção dos arranjos, sempre adornados pelo uso de sintetizadores melancólicos, cada fragmento funciona como uma síntese instrumental e poética para o restante da obra. “Eu olho ao meu redor / E lembro de quando eu era vivo / Sentir saudades de ser jovem / Deve ser um sinal que eu tô ficando velho“, reflete enquanto prepara o terreno para o doloroso refrão: “Eu sou tudo o que eu via nos adultos quando era criança“.

O mesmo lirismo entristecido acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. Canções como Homem de Bem, em que atravessa o próprio passado (“Lembrando da infância / Feliz com os meus pais, meus amigos, a igreja e a televisão“), para dialogar de forma amarga com o presente (“Hoje o meu coração se tornou vingativo / Eu só queria ver deus / Queimando um homem de bem“). Nesse sentido, Intermitências se revela ao público como um complemento ao antecessor Sapucaí (2018). A diferença está no tom adotado pelo músico. Composições que partem de uma base contida para se transformar em uma experiência quase raivosa, como uma fuga da sobriedade explícita em faixas como Réveillon, Nome Sujo e Rihanna.

E isso se reflete não apenas na montagem dos versos, mas na forma como o músico detalha os instrumentos dentro de cada composição. São guitarras volumosas, melodias e captações caseiras que se entrelaçam de forma deliciosamente irregular. Prova disso está na introdutória Penso e Perco Tempo. Pouco mais de dois minutos em que Tadeu evoca as criações sujas de Cat Power, como no cultuado What Would the Community Think (1996), além de dialogar com outros nomes importantes do período, como Sparklehorse e Elliott Smith. Instantes de fúria que antecedem momentos de maior calmaria e contemplação, como uma representação melódica da mente conturbada do músico mineiro.

Entretanto, mesmo nesse cenário torto e consumido pela dor, Intermitências garante ao público uma seleção de faixas marcadas pela completa leveza dos elementos. É o caso da derradeira É Difícil Encontrar Um Amigo, canção que rompe com o restante da obra para confortar o ouvinte, mesmo que por alguns segundos. A própria Palestra Motivacional, logo na abertura do disco, segue um caminho bem diferente. Claramente inspirada pela obra do Beach House, vide a forte similaridade com as criações apresentadas em Teen Dream (2010), a música ganha forma em meio a melodias enevoadas, como um complemento direto aos versos detalhados pelo artista. “Minha rotina diária é esperar / A hora que eu vou me sentir bem“, canta.

Com base nessa estrutura, Jonathan Tadeu garante ao público uma de suas obras mais sensíveis e pessoais. Enquanto os versos de cada canção parecem dançar pelo tempo, indo da infância à vida adulta de maneira sempre detalhista, musicalmente, Intermitências confessa algumas das principais inspirações do artista. O mais interessante talvez seja perceber como tudo isso se resolve em um curto intervalo de tempo. São pouco menos de trinta minutos em que o compositor mineiro condensa todas essas experiências de forma sempre atrativa, estrutura que preserva o lirismo intimista dos antigos trabalhos, porém, de forma ainda mais atrativa e honesta, indicativo da completa entrega do artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.