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Crítica

Jordana

: "Classical Notions of Happiness"

Ano: 2020

Selo: Grand Jury Music

Gênero: Indie, Bedroom Pop, Lo-Fi

Para quem gosta de: Frankie Cosmos e Clairo

Ouça: Jackie's 15, Signs e Cruch

7.5
7.5

Jordana: “Classical Notions of Happiness”

Ano: 2020

Selo: Grand Jury Music

Gênero: Indie, Bedroom Pop, Lo-Fi

Para quem gosta de: Frankie Cosmos e Clairo

Ouça: Jackie's 15, Signs e Cruch

/ Por: Cleber Facchi 07/07/2020

A descrição escolhida por Jordana Nye para apresentar o próprio trabalho não poderia ser mais precisa: “uma garota que faz música na sala de estar“. É justamente dentro desse território caseiro que a cantora e compositora norte-americana apresenta ao público o primeiro registro de inéditas da carreira, Classical Notions of Happiness (2020, Grand Jury Music). Nascido do processo de isolamento da artista de apenas 19 anos, o álbum ganha forma em meio a captações improvisadas, ruídos e vozes abafadas. Um registro de essência artesanal, proposta que em nenhum momento interfere na capacidade da artista em contar boas histórias e encantar pelo tratamento dado às melodias.

Na trilha de Frankie Cosmos, Sidney Gish e outros nomes recentes do bedroom pop, a cantora diz a que veio logo nos primeiros minutos do trabalho, na sequência composta por Remembering U e Jackie’s 15. São pouco mais de quatro minutos em que a artista original do Kansas parte de uma base acústica, marcada pelo dedilhado tímido, para provar de guitarras carregadas de efeitos, vozes duplicadas e batidas cuidadosamente encaixadas, como se Nye tivesse completo domínio da própria obra.

O mesmo tratamento acaba se refletindo na econômica I Wanna. Do uso da bateria eletrônica, passando pela voz quase sussurrada, sempre sensível, cada elemento do disco parece apresentado em uma medida própria de tempo, como se Jordana cercasse e confortasse o ouvinte. São versos marcados por desilusões amorosas e memórias de um passado ainda recente, como se a musicista transportasse para dentro do estúdio algumas de suas principais inquietações. Canções como What Were You Thinking? e Weight Of The World em que a artista se entrega por completo em um curto intervalo de tempo.

Instantes em que a cantora parte de inquietações particulares para dialogar de maneira honesta com o ouvinte. São preciosidades como a curtinha Signs, composição que vai do pop ao R&B em uma contida sobreposição dos elementos. “Não te conheço bem, mas posso dizer que você não gosta de câncer / É apenas a sensação que sinto de você, mas você não precisa responder / Astrologia não é minha coisa, mas inferno, estou interessada“, brinca enquanto reflete sobre a crença das pessoas em signos e relacionamentos motivados a partir deles.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura reducionista, Nye entrega ao público algumas de suas criações mais interessantes. É o caso da atmosférica Sway. Da construção das guitarras à limpidez dos vocais, tudo parece apontar para os anos 1980, lembrando um encontro entre Mr. Twin Sister e Blood Orange. A própria faixa de encerramento do disco, Crunch, reflete a capacidade da artista em ampliar o próprio território criativo. Completo pela presença de MELVV, a canção se destaca no uso de batidas rápidas e guitarras carregadas de efeitos, como uma parcial fuga do restante da obra.

Completo pela presença dos músicos Connor Eaves (guitarra), Sophie Emerson (baixo) e Will Erickson (bateria), o trabalho gravado em um intervalo de quase dois anos, funciona como um refúgio sentimental e poético para a musicista. Canções que partem de conflitos intimistas vividos pela própria artista, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte, proposta que faz de Classical Notions of Happiness uma obra sempre acolhedora e convidativa, mesmo nos momentos de maior vulnerabilidade e dor.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.