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Crítica

Julien Baker

: "Little Oblivions"

Ano: 2021

Selo: Matador

Gênero: Rock, Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Lucy Dacus, Phoebe Bridgers e Torres

Ouça: Faith Healer, Heatwave e Favor

8.0
8.0

Julien Baker: “Little Oblivions”

Ano: 2021

Selo: Matador

Gênero: Rock, Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Lucy Dacus, Phoebe Bridgers e Torres

Ouça: Faith Healer, Heatwave e Favor

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2021

Com a boa repercussão em torno do segundo álbum de estúdio, Turn Out the Lights (2017), trabalho que revelou músicas como Appointments, Sour Breath e Hurt Less, Julien Baker poderia simplesmente repetir o mesmo direcionamento criativo e entregar ao público uma sequência de obras conceitualmente próximas. Entretanto, longe de uma possível zona de conforto, a artista original de Germantown, Tennessee, decidiu testar os próprio limites e se aventurar em busca de novas possibilidades, mudança que se reflete em grande parte do repertório apresentado pela cantora e compositora norte-americana no confessional Little Oblivions (2021, Matador).

Longe da base acústica que tem sido incorporada desde a estreia com Sprained Ankle (2015), a artista se concentra na entrega de uma obra marcada pelo uso de pequenos detalhes e experimentações que apontam para os mais variados campos da música. A exemplo do que aconteceu em Remind Me Tomorrow (2019), último álbum de Sharon Van Etten, Baker preserva parte do rock empoeirado que marca o disco anterior, porém, estabelece no uso destacado dos sintetizadores e diálogos pontuais com produção eletrônica o principal elemento de ruptura do trabalho.

E isso se reflete logo nos primeiros minutos da álbum, em Hardline. Entre camadas de sintetizadores que parecem saídos do último disco de Lorde, o elogiado Melodrama (2017), Baker aponta parte da direção que será seguida até a derradeira Ziptie. São fragmentos instrumentais e batidas eletrônicas que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sempre acompanhados pelas vozes e sentimentos detalhados pela artista. Exemplo disso acontece em Bloodshot, música que parte do relacionamento instável de um casal como estímulo para composição dos arranjos e temas sintéticos que parecem maiores e mais complexos a cada nova audição.

Entretanto, é justamente quando utiliza de uma abordagem discreta desses mesmos elementos, como em Heatwave, que a obra de Baker realmente cresce. Entre ambientações contidas e guitarras que apontam para o disco anterior, tudo soa como um complemento para a faixa marcada pelo forte aspecto emocional da letra. “Exaustão respiratória, uma miragem na onda de calor / Nada a perder até que tudo realmente acabe“, canta. São versos sempre descritivos, fortes, efeito direto de uma crise de pânico vivida pela artista durante um engarrafamento causado por um acidente.

Essa mesma entrega acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São canções como Relative Fiction (“Porque se eu não tivesse um osso quebrado no meu corpo / Eu encontraria outra maneira de te causar dor“) e Repeat (“Todos os meus maiores medos acabam sendo o dom da profecia / Todos os meus pesadelos se tornando realidade“), em que utiliza de experiências reais como importante componente de diálogo com o ouvinte. Instantes em que a artista preserva tudo aquilo que foi apresentado durante o lançamento de Turn Out the Lights, porém, partindo de uma abordagem ainda mais honesta e consequentemente dolorosa.

Tamanha carga emocional vem justamente da forma como o álbum foi concebido. Com exceção de Favor, bem-sucedido encontro com Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, parceiras de banda no Boygenius, parte expressiva do material apresentado em Little Oblivions foi concebido durante um longo processo de isolamento vivido por Baker. Não por acaso, a cantora assume a produção e gravação dos instrumentos de forma integral. Da bateria às guitarras, da construção dos versos ao uso das vozes, tudo soa como um produto dos sentimentos e evidente entrega da artista durante toda a execução da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.