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Crítica

Kacy Hill

: "Is It Selfish If We Talk About Me Again"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Shura, Jessy Lanza e Empress Of

Ouça: I Believe In You, Porsche e Unkind

7.8
7.8

Kacy Hill: “Is It Selfish If We Talk About Me Again”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Shura, Jessy Lanza e Empress Of

Ouça: I Believe In You, Porsche e Unkind

/ Por: Cleber Facchi 31/08/2020

Com produção executiva de Kanye West, dezenas de produtores, parceiros e compositores, Like a Woman (2017), estreia de Kacy Hill, é um trabalho naturalmente consumido pelos excessos. Satisfatório perceber nas canções de Is It Selfish If We Talk About Me Again (2020), segundo e mais recente álbum de estúdio da artista norte-americana, uma obra completamente distinta. Produzido e gravado de forma totalmente independente, longe do suporte das gigantes G.O.O.D. Music e Def Jam, por onde distribuiu o disco anterior, a cantora e compositora de Phoenix, Arizona, investe na entrega de um material reducionista. Canções que se livram de possíveis exageros de forma a valorizar cada fragmento sentimental detalhado por Hill.

Na contramão do disco anterior, a cantora decidiu estreitar a relação com um time seleto de colaboradores. É o caso de Francis Farewell Starlite, o Francis and the Lights, com quem divide a produção executiva do trabalho, além da dupla formada pelos prolíficos BJ Burton (Charli XCX, Banks) e Jim-E Stack (Empress Of, Caroline Polachek). O resultado desse processo está na entrega de uma obra deliciosamente econômica, porém, difícil de ser ignorada. Instantes em que Hill passeia em meio a batidas reducionistas, fazendo dos próprios conflitos, romances e desilusões amorosas os componentes de destaque do disco.

Talvez eu esteja com medo do que vem a seguir / Talvez eu tenha medo do sucesso / Eu estou mesmo fazendo sentido? / Só estou pedindo um amigo“, confessa no pop atmosférico de Everybody’s Mother, sexta faixa do disco. Pouco mais de três minutos em que Hill se revela por completo, estreita a relação com o ouvinte e transforma a própria insegurança em um importante componente criativo. São recortes sentimentais que refletem diferentes momentos na vida da cantora, proposta que vai da descoberta de um novo amor, em Unkind (“Gostaria de ter conhecido você antes“), à completa melancolia, direcionamento explícito na introdutória To Someone Else (“Vou te dar tudo que eu tenho / Para outra pessoa“).

São justamente essas pequenas oscilações, quebras e rupturas criativas que tornam a experiência de ouvir Is It Selfish If We Talk About Me Again tão satisfatória. Instantes em que Hill vai do completo recolhimento, em Just To Say, à busca por um repertório deliciosamente acessível, marca da adorável Porsche. “Não leve para o lado pessoal / Se as coisas não funcionarem da maneira que você pensava … Sai dessa, diga em voz alta / Todo mundo te ama“, canta. São versos sempre sensíveis, estrutura que se completa pela fina inserção dos sintetizadores e melodias nostálgicas, como um diálogo breve da artista e seus parceiros com a produção dos anos 1980.

Se por um lado esse romantismo destacado garante ao público algumas das melhores criações já produzidas por Hill, vide I Believe in You, parceria com Francis and the Lights, e Palladium, música que se abre para a produção de Kito e Cashmere Cat, por outro, o forte aspecto monotemático do álbum torna a experiência do ouvinte arrastada, principalmente na segunda metade do disco. É como se a artista fosse incapaz de ir além dos mesmos temas e do universo sentimental que tem sido detalhado desde a estreia com Like a Woman, o que talvez desagrade quem acompanha o trabalho da cantora desde o registro anterior.

Entretanto, uma vez imerso nesse território detalhado ao longo da obra, difícil não se deixar guiar pela poesia confessional, doce romantismo e profunda entrega que caracteriza as canções do disco. A própria escolha da artista em trabalhar cada composição de forma reducionista torna tudo ainda mais atrativo. É como se, livre dos pequenos excessos detalhados durante o lançamento de Like a Woman, Hill valorizasse ainda mais as próprias experiências, proposta que faz de Is It Selfish If We Talk About Me Again um álbum que exige ser revisitado, a fim de perceber todas as nuances e sentimentos detalhados pela cantora até o último instante do registro.



Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.