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Crítica

Kehlani

: "It Was Good Until It Wasn’t"

Ano: 2020

Selo: Atlantic

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Jhené Aiko e Tinashe

Ouça: Bad News, Change Your Life e Grieving

7.8
7.8

Kehlani: “It Was Good Until It Wasn’t”

Ano: 2020

Selo: Atlantic

Gênero: R&B, Pop, Soul

Para quem gosta de: Jhené Aiko e Tinashe

Ouça: Bad News, Change Your Life e Grieving

/ Por: Cleber Facchi 13/05/2020

Kehlani talvez não faça parte do primeiro escalão do R&B norte-americano, entretanto, poucos artistas surgidos na última década mantém tamanha consistência e refinamento no processo de composição quanto a cantora de Oakland, Califórnia. Seja na busca por uma sonoridade cada vez mais voltada ao pop, marca do introdutório SweetSexySavage (2017), primeiro álbum de estúdio da carreira, ou no parcial recolhimento de obras como You Should Be Here (2015) e While We Wait (2019), sobram instantes em que a ex-integrante do PopLyfe desvenda e amplia a própria identidade criativa, proposta que muito se assemelha ao trabalho de contemporâneas como Tinashe e Jhené Aiko, essa última, parceira de longa data da artista.

É justamente dentro desse território particular que a cantora e compositora norte-americana embala as canções do confessional It Was Good Until It Wasn’t (2020, Atlantic). Segundo e mais recente trabalho de estúdio, o álbum concebido em um intervalo de poucos meses, utiliza de memórias ainda vívidas como estímulo para a formação dos versos. Composições que partem do recente término de relacionamento entre Kehlani e o rapper YG, passam pelo nascimento da primeira filha da artista e seguem em meio a instantes de doce melancolia, conceito que tem sido explorado desde os primeiros registros autorais.

Tudo o que eu quero que você saiba / Que eu me importo, é melhor você acreditar que eu me importo / Você está lá fora, não quero estar lá fora / De jeito nenhum, você quer estar aqui / Como sempre, então quando eu estou aqui, eu faço você querer“, canta na delicada Bad News, canção que preserva a essência intimista de SweetSexySavage, porém, estabelece no propositado reducionismo das batidas, melodias e vozes a base para grande parte do repertório entregue pela cantora. São faixas consumidas pela saudade e o isolamento do eu lírico, conceito que se reflete logo na imagem de capa do disco, com Kehlani tentando ver o mundo para além dos limites da própria casa e de um apocalipse interno.

É partindo desse mesmo direcionamento temático que Kehlani orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. Canções que evocam os momentos de maior melancolia de nomes como Aaliyah, TLC e demais representantes do R&B dos anos 1990, porém, sempre centradas nesse ambiente claustrofóbico, como se a cantora sufocasse pelas próprias incertezas, desejos e conflitos pessoais. “‘Eu te odeio’ se transforma em ‘eu te amo’ no quarto“, canta em F&MU, música que reflete parte da incerteza que serve de sustento aos versos, conceito que acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como na introdutória Toxic e Hate The Club.

Doloroso e provocante na mesma proporção, conceito que embala as canções de Kehlani desde You Should Be Here (2015), It Was Good Until It Wasn’t ganha ainda mais destaque na interferência direta de diferentes produtores e vozes no decorrer do trabalho. Exemplo disso ecoa com naturalidade em Grieving, faixa que se abre para a chegada do britânico James Blake. “Bem, eu posso entender como você / Seria atraída por mim … Ninguém nunca deu tantas chances quanto eu / Ninguém nunca teve tantas chances quanto eu / Bem, eu estou sofrendo“, canta. São versos tristes que costuram passado e presente de um relacionamento em processo de ruptura, temática que assume diferentes formatos ao longo da obra.

Completo pela presença da cantora Jhené Aiko, em Change Your Life, Tory Lanez, em Can I, e Lucky Daye, na ótima Can You Blame Me, It Was Good Until It Wasn’t cresce como o produto final de uma sequência de registros autorais, músicas inéditas e parcerias que marcam um dos períodos mais prolíficos da carreira de Kehlani. Um intenso processo de composição que teve início ainda no último ano, com o lançamento de While We Wait, passa pelo surgimento de faixas como Morning, parceria com Teyana Taylor, e All Me, com Keyshia Cole, e segue de forma bem-resolvida e sempre sensível de cada fragmento do presente álbum.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.