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Crítica

Kevin Morby

: "Sundowner"

Ano: 2020

Selo: Dead Oceans

Gênero: Folk, Folk Rock, Indie

Para quem gosta de: Cass McCombs e Kurt Vile

Ouça: Campfire e Sundowner

7.5
7.5

Kevin Morby: “Sundowner”

Ano: 2020

Selo: Dead Oceans

Gênero: Folk, Folk Rock, Indie

Para quem gosta de: Cass McCombs e Kurt Vile

Ouça: Campfire e Sundowner

/ Por: Cleber Facchi 30/10/2020

Kevin Morby é o típico caso de um artista que parece melhor e mais interessante a cada novo trabalho de estúdio. Mesmo que tenha estabelecido uma série de conceitos durante o lançamento de sua maior obra, Singing Saw (2016), o cantor e compositor norte-americano mantém firme a boa forma, investindo em uma sequência de registros marcados pelo lirismo melancólico, verso semi-declamados e melodias sempre pontuais, como um complemento à poesia entristecida que toma conta de álbuns como City Music (2017) e o ainda recente Oh My God (2019), casa de músicas como as delicadas No Halo e Nothing Sacred.

Sem tempo para descanso, Morby está de volta com mais um novo trabalho de estúdio. Em Sundowner (2020, Dead Oceans), registro produzido e gravado durante o período de isolamento social, o músico estadunidense perverte a essência urbana que tem sido explorada desde a entrega de City Music para investir em um álbum marcado pelo aspecto bucólico dos temas. São arranjos diminutos, batidas e vozes que se apresentam em uma medida própria de tempo, como se o cantor soubesse exatamente como manipular a experiência do ouvinte do primeiro ao último instante da obra.

Exemplo disso acontece na econômica Don’t Underestimate Midwest American Sun. Marcada pelo reducionismo dos arranjos, a canção traduz parte das experiências incorporadas pelo músico durante toda a execução de Sundowner. Do tratamento dado à percussão, passando pelo violão atmosférico, pianos e vozes calculadas, Morby parece envolver o ouvinte aos poucos, sem pressa. “Minha vida inteira / Eu estive esperando / Não vá / Não vá por favor / Fique aqui / Fique perto de mim“, canta. São versos sempre confessionais, como se o artista encontrasse no minimalismo dos arranjos um estímulo para a formação das letras, estreitando a relação com o próprio público.

O mesmo tratamento acaba se refletindo mais à frente, em A Night at the Little Los Angeles. Faixa mais extensa do disco, a canção ganha forma em um intervalo de mais de sete minutos onde Morby detalha o material em pequenos blocos. São vozes sussurradas, melodias e arranjos precisos. A própria faixa de abertura do disco, Valley, sintetiza parte desse direcionamento estético. É como se o artista norte-americano resgatasse parte das experiências detalhadas durante o lançamento de Singing Saw, porém, partindo de uma atmosfera ainda mais contida e sensível.

São criações fracionadas, como pequenos blocos cuidadosamente montados pelo artista dentro de estúdio. Perfeita representação desse resultado acontece em Campfire, quarta faixa do disco. Primeira música do álbum a ser apresentada ao público, a canção parte da poesia agridoce de Morby, cresce na breve participação de Katie Crutchfield, do Waxahatchee, e ganha novo resultado nos instantes finais. Mesmo a curtinha Wonder, com pouco menos de dois minutos de duração, transita em meio a ideias inexatas e sobreposições pontuais que crescem na segunda metade da composição.

Contraponto natural ao repertório entregue durante o lançamento de Oh My God, Sundowner mostra a capacidade de Morby em se reinventar criativamente mesmo em um curto intervalo de tempo. São canções que partem de um reducionismo explícito, porém, sustentam na formação dos versos e sentimentos compartilhados pelo músico norte-americano a passagem para uma de suas obras mais sensíveis e complexas. Canções que partem da mente inquieta, memórias e angústias vividas pelo próprio artista, fazendo desse lirismo confessional o estímulo para um registro de essência grandiosa.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.