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Crítica

King Krule

: "Man Alive!"

Ano: 2020

Selo: Matador / True Panther / XL Recordings

Gênero: Pós-Punk, Jazz, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Deerhunter e Ariel Pink

Ouça: Cellullar, Supermarché e Alone, Omen 3

8.1
8.1

King Krule: “Man Alive!”

Ano: 2020

Selo: Matador / True Panther / XL Recordings

Gênero: Pós-Punk, Jazz, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Deerhunter e Ariel Pink

Ouça: Cellullar, Supermarché e Alone, Omen 3

/ Por: Cleber Facchi 25/02/2020

Sempre prolífico, Archy Marshall fez do atmosférico The Ooz (2017), segundo álbum de estúdio como King Krule, um precioso ponto de equilíbrio entre tudo aquilo que vinha testando desde a estreia como Zoo Kid, vide músicas Out Getting Ribs e Has This Hit, ou mesmo em registros colaborativo, caso de A New Place 2 Drown (2015), trabalho assinado em parceria com o irmão mais velho, Jack Marshall. Um olhar curioso para o passado, estrutura que vai do jazz ao pós-punk, do experimentalismo eletrônico ao rap, como se cada composição entregue pelo guitarrista inglês servisse de passagem um novo ambiente temático.

Em Man Alive! (2020, Matador / True Panther / XL Recordings), primeiro registro de inéditas em três anos, Marshall não necessariamente chega a se repetir, porém, traz de volta uma série de elementos originalmente testados durante a entrega de The Ooz. São abstrações jazzísticas, improvisos e instantes de doce experimentação. Frações poéticas e instrumentais que forçam uma audição atenta por parte do ouvinte, como se o músico, longe de garantir respostas, entregasse parte das pistas em uma obra que ganha novo significado a cada audição.

Não por acaso, Marshall fez de (Don’t Let the Dragon) Draag On e Alone, Omen 3 as duas primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público. De essência atmosférica, ambas as canções ganham forma em meio a guitarras espaçadas, batidas e sintetizadores complementares, pano de fundo para a poesia descritiva do artista britânico. “Dê um mergulho, se você estiver sozinha, leve o seu tempo / Pegue uma passagem, pegue o trem até o final da linha / Veja para onde você pode ir, você gastou, é plástico, não faça ou morra / Melhor virar, pensar, você vai se sair bem“, canta enquanto cada componente se revela ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa.

De fato, quando observado em proximidade aos registros que o antecedem, principalmente o introdutório 6 Feet Beneath the Moon (2013), Man Alive! se revela muito mais como uma obra marcada pela ambientação dos temas. São faixas como Airport Antenatal Airplane e Theme for the Cross em que Marshall se distancia de possíveis excessos, estrutura que naturalmente convida o ouvinte a se perder em um cenário marcado pelo minimalismo das formas instrumentais. Mesmo o uso da voz se revela ao público de forma contida, breve, dando aos versos assinados pelo artista um caráter complementar.

Uma vez imerso nesse ambiente sombrio e deliciosamente contido, Marshall estabelece as bases para a entrega de músicas como a densa Stoned Again. São pouco mais de três minutos em que o guitarrista preserva a essência diminuta do restante da obra, porém, se permite avançar criativamente, investindo na composição de melodias ruidosas, vozes submersas e instantes de parcial libertação. A própria faixa de abertura do disco, Cellular, segue exatamente de onde King Krule parou no álbum anterior, efeito direto da criativa sobreposição das guitarras e metais, estrutura que acaba se repetindo mais à frente, na também delirante Comet Face, uma das principais faixas do disco.

Feito para ser desvendado, conceito que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Please Complete Thee, Man Alive! ganha ainda mais destaque quando observado em suas particularidades e inserções sempre minuciosas. São trechos de Small Crimes, da cantora Nilüfer Yanya, em Airport Antenatal Airplane e (Don’t Let the Dragon) Draag On, samples de Otis Redding e Carla Thomas, em Comet Face, e toda uma base instrumental que se completa pela presença dos músicos Ignacio Salvadores (saxofone), George Bass (bateria), Jack Towell (vocoder) e James Wilson (baixo). Composições que utilizam da fina desconstrução dos elementos como forma de expandir o território conceitual apresentado pelo artista inglês.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.