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Crítica

King Princess

: "Cheap Queen"

Ano: 2019

Selo: Zelig

Gênero: Pop, R&B, Pop Rock

Para quem gosta de: Clairo e Maggie Rogers

Ouça: Ain't Together e Trust Nobody

7.5
7.5

King Princess: “Cheap Queen”

Ano: 2019

Selo: Zelig

Gênero: Pop, R&B, Pop Rock

Para quem gosta de: Clairo e Maggie Rogers

Ouça: Ain't Together e Trust Nobody

/ Por: Cleber Facchi 14/11/2019

Mesmo em um universo de artistas que tem adotado uma sonoridade cada vez mais padronizada, Mikaela Mullaney Straus, a King Princess, parece seguir uma trilha particular. Fortemente influenciada pelo pop rock produzido nos anos 1990, preferência reforçada na versão para I Know, de Fiona Apple, lançada há poucos meses, a cantora e compositora nova-iorquina utiliza do primeiro álbum de estúdio da carreira, Cheap Queen (2019, Zelig), como um delicado exercício de apresentação e consolidação estética. Canções que costuram passado e presente de forma sempre autoral, como um convite a se perder em um universo próprio da artista.

Sequência ao material entregue em Make My Bed (2018), EP que revelou ao público preciosidades como 1950 e Talia, Cheap Queen mostra a capacidade da artista em transitar por entre gêneros de forma sempre coesa, como se confessasse algumas de suas principais referências criativas. Canções que vão do pop ao R&B em uma linguagem marcada pelo frescor dos elementos, proposta que naturalmente aponta para o trabalho de Clairo, Cuco e outros nomes recentes que vem transformando a produção estadunidense.

Síntese desse criativo refinamento estético se faz evidente em Ain’t Together, quarta faixa do disco. “Dizemos ‘eu te amo’, mas não estamos juntos / Você acha que os rótulos dão um sabor muito melhor? / Querida, você acha que se eu falar o suficiente / Eu vou fazer você querer ser minha? / Não estamos juntas“, confessa de forma melancólica, ainda que esperançosa, estrutura que naturalmente aponta para o mesmo romantismo agridoce de nomes com Alanis Morissette. Instantes de profunda entrega sentimental, cuidado que se reflete até a faixa de encerramento do disco, If You Think It’s Love.

De fato, cada fragmento do disco encontra em memórias e experiências recentes vividas por King Princess um estímulo natural para a composição dos versos. Do momento em que tem início, em Tough on Myself (“Então minhas boas intenções / Ficam ruins quando você me abraça“), passando por You Destroyed My Heart (“Você destruiu meu coração / Agora eu quero alguém bom“) e Trust Nobody (“Eu nunca confio em ninguém / Não, eu nunca confio, mas confio em você“), tudo gira em torno de um delicado universo sentimental, estrutura que tem sido aprimorada pela artista desde o lançamento de Make My Bed.

Interessante perceber o esmero desse lirismo confessional mesmo em faixas como a curtinha Useless Phrases. “Você diz que me quer de volta / Mas eu não costumo ouvir frases tão inúteis“, brinca enquanto ruídos e ambientações compactas correm ao fundo da canção. Em Isabel’s Moment, oitava música do disco, melodias tortas e pianos assumidos pelo também melancólico Tobias Jesso Jr., como uma extensão do material entregue pelo cantor e compositor canadense durante o lançamento do primeiro álbum de estúdio da carreira, Goon (2015).

Se por um lado essa poesia sentimental parece convencer o ouvinte sem grandes dificuldades, por outro, não há como negar o forte aspecto monotemático que orienta a produção do disco. Mesmo a base instrumental do álbum utiliza de um limitado conjunto de ideias, resgatando uma série de elementos anteriormente testados durante o lançamento de Make My Bed. Canções que poderiam facilmente cair em uma terrível zona de conforto, prejudicando o rendimento da obra, não fosse a forma como King Princess trata de cada verso com profunda honestidade, fazendo das próprias desilusões o componente central para o crescimento do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.