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Crítica

The Flaming Lips

: "King's Mouth"

Ano: 2019

Selo: Warner Bros. / Bella Union

Gênero: Rock Psicodélico, Experimental

Para quem gosta de: Panda Bear e Avey Tare

Ouça: How Many Times e The Sparrow

7.0
7.0

“King’s Mouth”, The Flaming Lips

Ano: 2019

Selo: Warner Bros. / Bella Union

Gênero: Rock Psicodélico, Experimental

Para quem gosta de: Panda Bear e Avey Tare

Ouça: How Many Times e The Sparrow

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2019

Mesmo marcada pela pluralidade de conceitos, ritmos e fórmulas instrumentais, a discografia do The Flaming Lips pode facilmente ser dividida em dois grupos específicos de obras. De um lado, álbuns marcados pelo mais completo delírio criativo de seus realizadores, como o inusitado Zaireeka (1997), projeto que devia ser tocada simultaneamente em quatro aparelhos de som, ou mesmo o esquizofrênico Embryonic (2009). No outro, trabalhos que mesmo consumidos pela mais completa lisergia, sintetizam o refinamento melódico de Wayne Coyne, como na obra-prima The Soft Bulletin (1999) e no acessível Yoshimi Battles the Pink Robots (2002).

Mais recente álbum de estúdio do coletivo de Oklahoma, King’s Mouth (2019, Warner Bros. / Bella Union) claramente faz parte desse segundo conjunto de obras. Originalmente lançado no Record Store Day deste ano, apenas em edição física, o trabalho de 12 faixas flutua em uma cama de sons atmosféricos, melodias etéreas e versos delirantes, como uma clara continuação do som que vem sendo aprimorado pela banda desde o maduro Clouds Taste Metallic (1995).

São paisagens instrumentais que partem do pop eletrônico entregue no melódico Oczy Mlody (2017), porém, em um sentido menos óbvio e naturalmente abstrato. Exemplo disso está na arrastada The Sparrow, música que se revela ao público em pequenas doses, costurando vozes carregadas de efeitos, sintetizadores atmosféricos e guitarras ocasionais, sonoridade que muito se aproxima do material apresentado há poucos meses em Buoys (2019), delirante conjunto de ideias entregue pelo também psicodélico Panda Bear.

Claro que essa busca por um material puramente inexato não interfere na criação de faixas minimamente acessíveis, como um regresso ao mesmo universo criativo de Yoshimi Battles the Pink Robots. É o caso de How Many Times, um pop psicodélico marcado pela força dos sentimentos e profunda entrega emocional de Coyne. Feedaloodum Beedle Dot é outra composição que desperta a curiosidade do público pelo criativo encontro entre guitarra e bateria, garantindo ritmo à obra.

Entretanto, sobrevive no som labiríntico de músicas como Giant Baby, Electric Fire, All for the Life of the City e a própria faixa-título a real beleza do trabalho. Perceba como Wayne transforma a própria voz em um instrumento complementar, mergulhando o ouvinte em camadas de fina distorção e texturas eletrônicas. De fato, é necessário tempo até que o ouvinte seja acomodado no interior da obra, como uma fuga do caráter emergencial que marca alguns dos registros mais conhecidos do grupo, como At War with the Mystics (2006) e o colaborativo Miley Cyrus and Her Dead Petz (2015).

Guiado pela narrativa de Mick Jones, guitarrista do The Clash, em diversas composições, King’s Mouth, mais do que um novo registro de inéditas do The Flaming Lips, serve de complemento à instalação artística de mesmo nome produzida por Wayne Coyne. Um misto de trilha sonora e delirante exercício criativo, direcionamento que se completa pela própria imagem de capa do álbum, uma ilustração lisérgica que traduz visualmente a estrutura física cuidadosamente planejada pelo músico.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.